Autor(es):
José Roberto de Toledo
09/07/2012
Se você
não conhece um candidato a vereador pessoalmente, melhor repensar sua inserção
na vida política da sua cidade. Nas próximas eleições, mais de 400 mil pessoas
devem se candidatar a um assento numa câmara municipal. É 1 candidato a
vereador para cada 320 eleitores, na média brasileira. Ou seja, há uma boa
chance de qualquer um ter um primo, um vizinho, um colega de trabalho ou escola
que seja candidato.
As
probabilidades, é claro, variam de lugar para lugar. Quanto maior a cidade,
menor a chance. Em São Paulo, o risco de trombar com um postulante (1 em 7 mil)
é uma pequena fração do que é em Araguainha (MT), com seus 21 candidatos para
925 eleitores. Isso não serve de desculpa, todavia. É improvável que a Câmara
da pequena cidade mato-grossense empregue um garagista com salário de R$ 23 mil
- até por falta de garagem. A de São Paulo sim.
Na média,
o candidato a vereador é cinco anos mais novo do que o candidato a prefeito,
além de ter passado menos tempo na escola. Tem 45 anos, é homem e não chegou a
completar o ensino médio. A maioria é de casados, embora 1 em cada 3 ainda seja
solteiro. Tem uma boa chance de ser servidor público municipal. Se não, é
provável que seja agricultor ou comerciante. Se for mulher, dona de casa ou
professora.
A Câmara
Municipal não é a única porta de entrada para a política partidária. Nenhum dos
últimos presidentes brasileiros foi vereador. Nem Dilma Rousseff, nem Lula, nem
FHC, nem Itamar Franco (tentou mas não conseguiu), nem José Sarney nem Fernando
Collor - muito menos os militares. O último - e talvez o único - presidente que
havia sido vereador foi Jânio Quadros. OK, não é o melhor exemplo. Mas que não
sirva de desencorajamento.
Se
ninguém está olhando, vereadores podem se sentir à vontade para fazer de conta
que compareceram a sessões nas quais nunca estiveram, terceirizar seu voto para
funcionários da Câmara e sabe-se lá mais o que. A prudência recomenda procurar
conhecer pessoalmente um candidato a vereador e acompanhar o que ele vier a
fazer, se for eleito. Nem que seja para ter um pistolão e se candidatar àquela
vaga de garagista.
Tudo bem,
seu negócio não é política e você não é muito bom em manobrar carros. Mesmo
assim, as eleições municipais são mais importantes do que parecem. É muito mais
do que o início de uma carreira política promissora. É a base onde todos os
partidos, sem exceção, assentam suas pretensões políticas. Não há partido
grande sem base municipal. Sem vereadores é difícil eleger prefeitos, e, sem
prefeitos, não se elegem deputados federais.
Há uma correlação estatística quase perfeita
entre a quantidade de votos para prefeito que um partido recebe e o número de
representantes que a mesma sigla elege dois anos depois para a Câmara dos
Deputados. O coeficiente é de 0,96 num máximo de 1. Nenhum dos maiores partidos
brasileiros recebeu, em 2008, menos do que 150 mil votos a prefeito por
deputado federal eleito em 2010. A proporção
parece esdrúxula, mas não é.
Os
prefeitos são os principais cabos eleitorais dos deputados. Sem algumas
centenas de prefeitos um partido não elege uma dezena de deputados. O tamanho
dos eleitorados governados pelos prefeitos faz diferença, mas, na média, um
partido médio ou grande precisa eleger 12 prefeitos para levar um deputado à
Câmara no pleito seguinte. Alguns precisam mais, outros menos.
O PT
precisou de seis prefeitos por deputado; o PTB, de 20. Mas os deputados
petistas foram empurrados também pela campanha de Dilma e a popularidade de
Lula. O PT, portanto, é a exceção. A regra é o PMDB e o PSDB, que precisaram
eleger 15 prefeitos em 2008 para cada deputado federal eleito dois anos depois.
Ou o PP, que precisou de 13; ou ainda DEM e PDT, de 12; PSB e PR, de 9. Por
isso, os voos partidários em 2014 decolam este ano.
Na
política brasileira, há dois astros (PT e PSDB) em torno de qual orbitam quase
todas as outras siglas. O número de satélites varia em função de qual dos dois
está no poder. A grande exceção, por ora, é o PMDB, que tenta ser o fiel da
balança sem o qual é impossível governar. Mas há duas novidades em cena,
disputando o papel dos protagonistas.
O PSB de Eduardo Campos pretende em 2014 (mais
difícil) ou em 2018 (mais provável) se tornar um astro com candidato a
presidente viável. E o PSD de Gilberto Kassab quer ser o novo PMDB. O sucesso
ou fracasso desses planos depende, principalmente, do desempenho de PSB e PSD
nas próximas eleições. Para chegarem ao estrelado, precisão eleger mais
prefeitos do que têm hoje. Por isso 2012 é a mãe de todas as eleições.Fonte: O Estado de S. Paulo
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