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sábado, 15 de setembro de 2012

Fúria islâmica

Autor(es): » RODRIGO CRAVEIRO
Protestos contra o filme que ridiculariza o profeta Maomé se espalham por 30 países muçulmanos e deixam ao menos 11 mortos. Embaixadas são incendiadas. EUA enviam marines para o Iêmen e o Sudão
Sagrada para o islã, a sexta-feira foi um dia de oração, mas também de muita revolta. Depois de ocuparem as mesquitas, milhares de muçulmanos tomaram as ruas, incendiaram embaixadas ocidentais e entraram em confronto com a polícia. Em defesa do profeta Maomé, empunharam o Corão, queimaram a bandeira americana e a substituíram pelo estandarte islâmico com o shahada ("Não existe outro Deus, senão Alá. Maomé é o mensageiro de Deus"), uma espécie de testemunho de fé do islamismo. Os violentos protestos contra o filme Innocence of muslims ("A inocência dos muçulmanos", pela tradução livre) se espalharam ontem por 30 países muçulmanos, deixando pelo menos 11 mortos — três na Tunísia, três no Sudão, dois no Líbano, dois no Iêmen e um no Egito.
As embaixadas do Reino Unido e da Alemanha, em Cartum, foram invadidas e queimadas pela multidão enraivecida. Um alto funcionário do governo norte-americano assegurou ontem, à agência France-Presse, que Washington trabalha com os países do Oriente Médio e do norte da África para reforçar a segurança de suas delegações diplomáticas. Depois de enviar marines para a Líbia, em resposta ao assassinato do embaixador Christopher Stevens, na terça-feira, o Pentágono despachou fuzileiros navais para o Iêmen e para o Sudão.
Na Tunísia, foco da primeira revolta da Primavera Árabe (entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011), o fotógrafo Rabii Kalboussi foi testemunha de um dia de fúria. "Os manifestantes se reuniram depois da oração e caminharam até a Embaixada dos EUA. Assim que chegaram lá, os confrontos começaram. A polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para fazer com que recuassem. No entanto, eles continuaram lançando pedras de diferentes direções", relatou ao Correio, por meio da internet. "Cerca de três horas depois, os salafistas conseguiram escalar o muro do prédio, a partir do outro lado, e atearam fogo ao estacionamento e a partes do prédio principal", acrescentou.
Rabii disse não ter presenciado o momento em que três muçulmanos foram mortos e 28 ficaram feridos. "Foi uma grande bagunça! Pelo menos 50 carros da embaixada foram queimados. A multidão gritava slogans contra os judeus, os Estados Unidos e (Barack) Obama (presidente americano)", lembra. "Os manifestantes também incendiaram uma escola americana situada em frente à embaixada." Rabii admitiu jamais ter visto algo assim. "Eu não esperava que isso ocorresse. A embaixada é realmente segura, se comparada com as do Egito e da Líbia", comentou.
Ante o aumento da tensão em Sanaa, o Departamento da Defesa dos EUA mobilizou uma força de 50 marines, que chegou ontem à capital iemenita. Os salafistas tentaram, mais uma vez, atacar a Embaixada dos EUA. A polícia atirou para o ar e usou jatos d"água, a fim de dispersar os manifestantes, reunidos a apenas 500m do prédio. Duas pessoas morreram, depois de serem atingidas por balas. A jornalista Shatha Al-Harazi confirmou ao Correio a presença dos marines, que têm a tarefa de proteger a representação. "Eles chegaram hoje (ontem). Estradas que levam à embaixada foram bloqueadas e os manifestantes não puderam se aproximar muito. Nós sempre refutamos qualquer intervenção militar, especialmente dos EUA. Os seguranças que vigiavam o prédio fugiram. Acho que desejavam que isso ocorresse, para justificar o envio dos marines", comentou.
Cartum
A rede de tevê CNN divulgou que fuzileiros navais também foram despachados para Cartum, depois que 10 mil muçulmanos se arremeteram contra as embaixadas do Reino Unido e da Alemanha. A bandeira alemã foi retirada e substituída por símbolos islamitas. De acordo com a agência Reuters, os invasores saquearam o prédio. Por sua vez, a agência estatal de notícias Suna afirmou que dois dos três manifestantes mortos foram atropelados por um carro da polícia e classificou o fato de "acidente". Pelo menos 50 policiais ficaram feridos e uma viatura acabou incendiada. No Líbano, centenas de pessoas saíram às ruas de Trípoli (norte) e queimaram os restaurantes Kentucky Fried Chicken (KFC) e Ardy"s, ambos franquias norte-americanas. Duas pessoas morreram e 25 ficaram feridas.
Em Jos, na Nigéria, o Exército realizou tiros de advertência para o alto, a fim de impedir um protesto em uma mesquita. "As forças nigerianas dispersaram os manifestantes na Mesquita Central com munição real. Testemunhas disseram que duas pessoas morreram, mas o capitão Salihu Mustapha, porta-voz do Exército, negou", afirmou à reportagem o jornalista Saleh Shehu Ashaka. Ele lamenta a violência por trás dos protestos contra o filme. "O islã é uma religião pacífica. Ela se levanta pela paz e deseja a paz", lembra. "É o espírito da paz que deveria mover esses atos."
"Obama, Obama, nós somos todos Osamas", bradavam dezenas de islamitas radicais reunidos durante um protesto em Benghazi, no leste da Líbia — uma referência ao terrorista saudita Osama bin Laden, ex-líder da Al-Qaeda. Protestos também foram registrados na Síria, em Bangladesh, na Indonésia, no Iraque, no Irã, no Paquistão, na Turquia, em Israel e na Malásia, entre outras nações. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, considerou o filme Innocence of muslims "repugnante" e apelou para a calma e a razão.
Ressentimento e mortes
Cartum, Sudão
Três manifestantes foram mortos e 50 policiais feridos durante ataque à Embaixada dos EUA. A multidão também invadiu as embaixadas da Alemanha e do Reino Unido. Bandeiras islâmicas foram hasteadas no lugar da americana. Na representação alemã, os invasores quebram janelas, câmeras e móveis, antes de incendiar o local.
Túnis, Tunísia
Uma multidão escalou o muro da Embaixada dos EUA e queimou árvores dentro do complexo. Uma escola americana também foi incendida pelos manifestantes enfurecidos. O Exército disparou munição letal contra os invasores, na maior parte salafistas. Pelo menos três pessoas morreram e 28 ficaram feridas.
Sanaa, Iêmen
"Hoje é seu último dia, embaixador" e "A América é o demônio" eram frases estampando os cartazes de manifestantes que tentaram invadir a Embaixada dos EUA. Duas pessoas foram mortas.
Trípoli, Líbano
Pelo menos 300 salafistas se lançaram contra os restaurantes Kentucky Fried Chicken e Ardy"s. Furiosos, lançaram pedras e garrafas contra os agentes. Duas pessoas morreram.
Cairo, Egito
Um homem de 35 anos foi morto a tiros pela polícia, perto da Embaixada dos Estados Unidos.
Em guerra
"Os Estados Unidos estão em guerra com o islã. E esse filme é o último absurdo dessa guerra. Os EUA mataram inocentes no Afeganistão e no Iraque. Muitas pessoas no Paquistão foram mortas a sangue frio. O governo americano ficará ainda mais isolado e o ódio se enraizará na comunidade islâmica."
Anjem Choudary,
porta-voz do grupo radical islâmico Islam4UK, baseado em Londres
Correio Braziliense - 15/09/2012

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