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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mercado já admite Selic abaixo de 7,25% em 2013

Autor(es): Por Lucinda Pinto e João José Oliveira | De São Paulo

A possibilidade de o Banco Central voltar a cortar os juros em 2013 entrou no radar do mercado e começa a ser incorporada às projeções dos economistas. Ainda não há revisão generalizada de cenários, mas é consenso que a possibilidade de mais queda da Selic cresceu após os dados recentes da economia.
Mas essa mudança de visão não vem acompanhada de ajustes para baixo nas expectativas de inflação. A maioria dos especialistas ainda trabalha com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) acima de 5,50% em 2013, mesmo considerando uma lenta recuperação da atividade.
Dos 19 profissionais ouvidos pelo Valor, o ajuste mais intenso foi feito pelo Santander, que agora vê a Selic cair até 6,25% ao longo de 2013 e permanecer nesse nível até o fim de 2014. O Nomura mudou a estimativa para o juro de 9% para 8,5% no fim de 2013. Já Lecca e Icap passaram a trabalhar com estabilidade da taxa no próximo ano, ante projeções anteriores de 8% e 8,25%, respectivamente. Mesmo caso do J.Safra, que agora enxerga estabilidade da Selic em 7,25% até o fim de 2014; antes o economista-chefe Carlos Kawall projetava aumento de um ponto percentual da Selic após o fim de 2013.
Segundo o economista do Santander, Cristiano Souza, os dados da indústria ainda fracos mostram que o Banco Central precisaria fazer mais cortes de juros. "Deve haver uma recuperação, mas em ritmo mais lento do que se esperava". No novo cenário do banco espanhol, o alívio monetário deve ser retomado em março, quando já estiverem disponíveis dados do PIB referentes ao quarto trimestre de 2012 e os números da indústria do início de 2013.
O que ainda não está claro para o especialista é se esse quadro de atividade mais lenta permitirá um alívio na inflação. Assim, as estimativas para o IPCA estão em processo de revisão: para 2013, a projeção atual está em 6% e, para 2014, em 6,5% - teto da meta de inflação. "Estamos discutindo o que deve acontecer, porque a inflação sentirá o efeito da atividade mais fraca, mas também do câmbio desvalorizado", disse, lembrando que há ainda dúvidas sobre o tamanho da redução da tarifa de energia elétrica esperada para o próximo ano.
Os demais analistas que mantiveram as previsões admitem que a política monetária passou a ter um "viés de baixa", depois que os últimos dados de atividade foram revelados, por meio do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre e da produção industrial de outubro. "Parece que a preferência do Banco Central é por manter o juro estável mais tempo, mas claro que o risco de novos cortes dos juros aumentará à medida que outros dados de atividade ruins forem divulgados", afirma David Becker, do BofA Merrill Lynch.
Ele diz que, mesmo com a possibilidade de um PIB mais baixo, o mais provável é a Selic não ser alterada no ano que vem, mas voltar a subir em 2014, até atingir o patamar de 8,75%. O economista cortou de 1,7% para 1,1% a previsão do PIB em 2013 e de 4,2% para 3,6% no ano seguinte.
Para a economista da Icap Brasil, Inês Filipa, dados fracos da atividade têm efeito negativo sobre a confiança de empresários e consumidores, o que afasta a perspectiva de juro mais alto. Já o economista do Standard Chartered, Italo Lombardi, mantém a previsão de Selic a 7,25% até o fim do ano que vem, mas admite que a chance de um corte aumentou.
O que pode afetar o cenário é o risco de inflação, que pode ganhar contornos mais preocupantes nos próximos meses. Becker, do BofA, lembra que há pontos de atenção: piora na margem dos preços dos alimentos, possibilidade de a redução da energia elétrica não vir na magnitude esperada e risco de reajuste dos combustíveis em 2013, ainda não contemplado no cenário do BC.
A evolução do câmbio, nesse contexto, amplia as incertezas. Inês Filipa, do Icap Brasil, estima que a desvalorização de cerca de 10% do real tem um impacto sobre o IPCA de 0,35 a 0,45 ponto percentual em um prazo de 12 meses. "A desvalorização este ano está ao redor de 15%, portanto o câmbio tem impacto relevante sobre o IPCA de 2012". E Ítalo Lombardi avalia que o câmbio mais desvalorizado pode influenciar esse cenário, mas marginalmente. "Podemos dizer que o BC estaria menos disposto a cortar os juros se o câmbio desvaloriza muito mais", acredita.
Na contramão da maioria, o sócio da Troster & Associados, Roberto Troster, que comandou a equipe econômica da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) por vários anos, avalia que os agentes de mercado vão rever os cenários de juros baixos por causa da inflação nos próximos meses. Para ele, os índices de preços não vão ceder, as pressões vão aumentar, e o governo terá que elevar juros ano que vem. "Todo mundo errou nas projeções de atividade por causa do problema da defasagem, que é difícil calcular", diz sobre o ritmo da reação da economia aos estímulos monetários, tributários e fiscais já lançados pelo governo.
Troster diz que o problema da retomada de crescimento econômico não é a falta de estímulos. "A cada rodada, eles perdem força", aponta. O gargalo, diz o economista, está na política focada no curto prazo e intervencionista que tem gerado incertezas e, assim, afetado a decisão de investimentos dos empresários e executivos. "Não está vindo dinheiro para projetos novos".
Segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE, a produção de bens de capital - termômetro do investimento agregado na economia - recuou 0,6% entre setembro e outubro, já com ajustes sazonais, a terceira queda mensal consecutiva. Em relação a outubro de 2011, a produção de bens de capital caiu 5,8%.
 Fonte: Valor Econômico - 06/12/2012

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