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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Brás abriga quem chega a São Paulo pela “porta dos fundos”, diz geógrafo

22/09/2015 19h30
São Paulo
Daniel Mello- Repórter da Agência Brasil

Conhecido por ter abrigado os imigrantes europeus que chegaram a São Paulo na primeira metade do século 20, o Brás continua a ser o bairro daqueles que, segundo o geógrafo  André Roberto Martin, chegam pela “porta dos fundos”.

“O Brás que abriga esses imigrantes que chegam dos países andinos, da Bolívia, e dos países africanos notadamente. O Brás, desse ponto de vista, continua sendo a porta de entrada dos fundos da cidade. A porta da frente são os aeroportos”, disse o professor da Universidade de São Paulo (USP), ao palestrar hoje (22) em evento sobre cultura e urbanismo.

A facilidade de transporte e a localização próxima ao centro fazem, de acordo com Martin, com que o bairro mantenha a característica de atrair os imigrantes que chegam à cidade com pouco dinheiro em busca de condições melhores. “A localização do Brás faz dele a porta de entrada de toda a zona leste. Ele acaba sendo uma espécie de centro para toda aquela periferia da zona leste”, ressalta o professor.

Passam pelo bairro a linha vermelha do metrô, que liga a zona oeste à zona leste, e também a linha de trem metropolitano, que vai até a região do Grande ABC. “Tudo está entrelaçado e a mobilidade urbana é a principal característica do bairro, hoje Um centro de distribuição da força de trabalho. Portanto, ele continua atraindo essa força de trabalho”, diz Martin.

A origem do bairro está ligada ao cruzamento das antigas ferrovias que ligavam a capital paulista ao Rio de Janeiro e o interior do estado ao Porto de Santos. “As mercadorias que iam para o Porto de Santos e a ligação com a capital federal, fez com que justamente ali, no Largo da Concórdia, tivesse um entroncamento decisivo das duas principais ferrovias do país. Isso continuou de alguma maneira, mesmo depois, quando se substituiu o trem pelo ônibus e pelo automóvel”, lembra o pesquisador.

Essas características fizeram com que o bairro atraísse, sobretudo, a classe operária da primeira metade do século 20. O professor discorda da narrativa que tenta estabelecer o Brás como um bairro de italianos, apesar de reconhecer a importância dessa colônia na região. “Pelo fato de ser descendente de espanhóis, eu sempre fiquei um pouco contrariado com essa imagem do Brás como bairro italiano. Me desculpe, mas tinha muitos espanhóis no Brás, não éramos poucos”, destaca  Martin, que pesquisou a região e morou grande parte da vida no bairro.

Para o geógrafor, o Brás é o berço da classe operária paulistana e brasileira: “Não há, no Rio de Janeiro, um bairro com características semelhantes ao Brás, no qual, ao lado das habitações operárias, tinha as fábricas e também as sedes das associações operárias”, detalha Martin, sobre a combinação que considera única.
Nesse sentido, o bairro manteve, na opinião do professor, um perfil semelhante. Em sua leitura, convivem hoje nesse espaço os empregados do setor de serviços, como cabeleireiras e vendedores, e também os trabalhadores informais: “Essa gente que não tem uma ocupação fixa, não tem uma formação, acaba trabalhando no comércio ambulante, informal. Isso ainda é muito característico do Brás”.


Edição: Jorge Wamburg


Fonte: Agência Brasil

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