9h28 Meio
Ambiente, Nacional
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Pouco mais de sete em cada dez cemitérios públicos
brasileiros têm problemas de ordem ambiental e sanitária, de acordo com
estudo do geólogo e mestre em engenharia sanitária Lezíro Marques Silva.
O levantamento, concluído em 2011, reuniu dados de mais de mil
cemitérios do país, entre públicos e privados. O pesquisador, que é
professor da Universidade São Judas, explica que os problemas começam na
superfície com a proliferação de animais vetores de doenças e continuam
no subsolo com a contaminação do lençol freático.
“Se o necrochorume escapa do túmulo, ele pode entrar em contato com o
lençol freático, criando uma mancha de poluição que atinge quilômetros
de distância a ponto de contaminar poços e rios”, explica o geólogo. O
necrochorume é um líquido formado durante a decomposição de cadáveres
enterrados, similar ao gerado pelos resíduos sólidos em aterros
sanitários. “Ele é rico em substâncias tóxicas como putrecina,
cadaverina e alguns metais pesados”, explica.
Lezíro Marques informou ainda que a contaminação do lençol freático
ocorre em quase a totalidade dos cemitérios públicos com problemas
ambientais e sanitários. Ele destaca que a saturação desses equipamentos
públicos agravam ainda mais os prejuízos provocados por essas
condições. “Com o esgotamento da capacidade de sepultamento, o que sobra
são terrenos do ponto de vista geológico inadequados, como lençol
freático raso, área de várzea e morro”, critica.
O professor Walter Malagutti, do Departamento de Geologia da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), que também desenvolve pesquisa
na área, explica que não havia a preocupação de observar os critérios
geológicos para construção de cemitérios. “Pode ocorrer de alguns terem
sido implantados em locais inadequados. Muitos estão em áreas nobres,
como as regiões centrais.”
Ele avalia que o ideal seria considerar os mesmos critérios dos
aterros sanitários, como lençol freático mais profundo possível, rocha
impermeável e distância dos centros urbanos, para construção de
cemitérios.
Walter Malagutti explica ainda que os cemitérios são fonte renovável
de contaminação, pois, diferentemente dos aterros, eles não costumam
ser desativados. “Pela legislação brasileira, depois de cinco a sete
anos, quando ficam só ossos, eles são removidos e colocado outro corpo
no local”, relata. Segundo o professor da Unesp, um diagnóstico
ambiental dos locais de enterro já existentes e a observação de
critérios geológicos para a implantação de novos cemitérios são algumas
medidas para amenizar a situação.
Já a pesquisa desenvolvida por Lezíro Marques resultou no
desenvolvimento de substâncias capazes de neutralizar o necrochorume,
reduzindo o nível de contaminação. “A grande meta é não permitir que o
líquido extravase”, destacou. Para tanto, foi criada uma espécie de
colchão a ser colocado na sepultura, o qual possui um líquido que
elimina os efeitos dos poluentes. Uma ação semelhante é conseguida por
uma substância que lava o subsolo retirando o necrochorume. “Tem
solução, mas pouco é feito”, avalia.
O geólogo destaca ainda a necessidade de uma legislação mais
específica, que oriente a construção de lajes de contenção e obrigue uso
de substâncias neutralizadoras do necrochorume.
Os pesquisadores concordam que a cremação seria a solução mais
adequada para a preservação do meio físico. Eles avaliam, no entanto,
que a questão cultural é o principal empecilho para o uso da técnica. “A
cremação é muito incipiente no Brasil. E isso não tem a ver diretamente
com o custo. Enquanto se paga entre R$ 350 e R$ 400 para cremar um
corpo, o enterro mais simples custo no mínimo R$ 2 mil. É uma questão
cultural”, avalia Lezíro.
Edição: Talita Cavalcante
Fonte: Agência Brasil
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