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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Outubro tem maior saída de dólares em 28 meses

Autor(es): Por José de Castro e José Sergio Osse | De São Paulo
O aumento nas remessas de lucros e dividendos ao exterior por empresas estrangeiras instaladas no Brasil é o responsável pela forte saída de dólares do país, de US$ 3,823 bilhões, em outubro, terceiro mês seguido de fluxo cambial negativo - o pior resultado desde junho de 2010. Para os próximos meses, a expectativa é de fluxo fraco, por conta dessas remessas e pela percepção que as constantes intervenções do governo no câmbio têm mantido afastados parte dos investidores estrangeiros.
A dúvida agora é se o Banco Central terá de inverter a mão em algum momento e oferecer liquidez ao mercado, já que o fluxo negativo levou os bancos a fecharem outubro com posição vendida de US$ 3,658 bilhões no dólar à vista. Essa é a primeira vez que essas instituições encerram um mês apostando na desvalorização da moeda americana desde dezembro de 2011. Para economistas, leilões de venda de moeda à vista pelo BC não condizem com a atual política cambial, dado que a valorização do real poderia colocar em risco a ainda tímida retomada da indústria.
Para Roberto Serra, gestor da Fram Capital, uma saída para o BC seria realizar leilões de venda de dólares conjugados com leilões de compra.
"Esse tipo de operação não tira dólar das reservas, e, como tem volta (o BC recompra os dólares), o impacto no dólar seria mais leve", diz. O BC, porém, só lançará mão desse instrumento caso o fluxo continue negativo, com saídas iguais ou mais fortes que as mais recentes, diz. "Não vejo cenário de recuperação firme no fluxo nos próximos meses, mas precisaria haver saídas muito volumosas para que o BC se visse obrigado a prover liquidez ao mercado."
A última vez em que o BC fez leilão de empréstimo com compromisso de recompra foi em dezembro de 2011, mas acabou não aceitando nenhuma proposta.
"Esse fluxo foi significativo, sim, mas já estava dentro do preço desde meados de julho. O mercado já sabia que haveria mais saídas que entradas em outubro", diz Tarcísio Rodrigues, diretor de câmbio do Banco Paulista. Ele concorda que o fluxo deve se manter perto do equilíbrio nestes últimos dois meses do ano. Dessa forma, não seria necessário que o BC oferecesse dólares para suprir o mercado. Para ele, nem mesmo a proximidade com o teto da banda cambial do BC, de R$ 2,05, seria suficiente para que a autoridade monetária atuasse na ponta vendedora.
"O BC não quer o dólar perto de R$ 2 nem muito perto de R$ 2,05. Mas o detalhe é que, mais para cima, ele tem mais paciência", diz.
O grande fluxo negativo de outubro, na opinião de Tiago Carlos, economista da Link Investimentos, foi algo pontual, especialmente na conta financeira, que apenas no último dia do mês registrou saída líquida de US$ 3,037 bilhões. Nesse dia, além de remessas de lucros e dividendos, houve também uma saída significativa relacionada ao pagamento da compra de uma empresa estrangeira por uma corporação brasileira.
"Pelo volume e pela concentração num único dia, é possível dizer que foi algo muito restrito. Não significa que saídas volumosas vão ser tendência agora", disse. Apesar da expectativa de saídas de dólares até pelo menos dezembro, Carlos acredita que a taxa de câmbio continuará oscilando entre R$ 2,02 e R$ 2,05. O economista considera que os níveis ainda elevados do Investimento Estrangeiro Direto (IED) ainda devem evitar um colapso do fluxo. "Essa conta ainda continua firme. E ainda tem as captações de empresas, que também não vão deixar o fluxo ficar ainda mais negativo."
Em outubro, até o dia 19, segundo dados mais recentes do BC, o IED já somava US$ 3,8 bilhões, mais da metade da previsão do BC para o mês cheio, de US$ 6 bilhões.
O impacto do fluxo no dólar ontem foi limitado, com a moeda subindo 0,10% a R$ 2,034. Segundo Rodrigues, o ganho na terça foi devido a uma saída "pontual" de dólares do país, uma vez que o mercado já esperava fluxo negativo em outubro.
Fonte: Valor Econômico - 08/11/2012

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