Autor(es): Por José de Castro e José Sergio Osse | De São Paulo
O aumento nas remessas de lucros e dividendos ao exterior por
empresas estrangeiras instaladas no Brasil é o responsável pela forte
saída de dólares do país, de US$ 3,823 bilhões, em outubro, terceiro
mês seguido de fluxo cambial negativo - o pior resultado desde junho de
2010. Para os próximos meses, a expectativa é de fluxo fraco, por
conta dessas remessas e pela percepção que as constantes intervenções
do governo no câmbio têm mantido afastados parte dos investidores
estrangeiros.
A dúvida agora é se o Banco Central terá de inverter a mão em algum
momento e oferecer liquidez ao mercado, já que o fluxo negativo levou
os bancos a fecharem outubro com posição vendida de US$ 3,658 bilhões
no dólar à vista. Essa é a primeira vez que essas instituições encerram
um mês apostando na desvalorização da moeda americana desde dezembro
de 2011. Para economistas, leilões de venda de moeda à vista pelo BC
não condizem com a atual política cambial, dado que a valorização do
real poderia colocar em risco a ainda tímida retomada da indústria.
Para Roberto Serra, gestor da Fram Capital, uma saída para o BC
seria realizar leilões de venda de dólares conjugados com leilões de
compra.
"Esse tipo de operação não tira dólar das reservas, e, como tem
volta (o BC recompra os dólares), o impacto no dólar seria mais leve",
diz. O BC, porém, só lançará mão desse instrumento caso o fluxo
continue negativo, com saídas iguais ou mais fortes que as mais
recentes, diz. "Não vejo cenário de recuperação firme no fluxo nos
próximos meses, mas precisaria haver saídas muito volumosas para que o
BC se visse obrigado a prover liquidez ao mercado."
A última vez em que o BC fez leilão de empréstimo com compromisso de
recompra foi em dezembro de 2011, mas acabou não aceitando nenhuma
proposta.
"Esse fluxo foi significativo, sim, mas já estava dentro do preço
desde meados de julho. O mercado já sabia que haveria mais saídas que
entradas em outubro", diz Tarcísio Rodrigues, diretor de câmbio do
Banco Paulista. Ele concorda que o fluxo deve se manter perto do
equilíbrio nestes últimos dois meses do ano. Dessa forma, não seria
necessário que o BC oferecesse dólares para suprir o mercado. Para ele,
nem mesmo a proximidade com o teto da banda cambial do BC, de R$ 2,05,
seria suficiente para que a autoridade monetária atuasse na ponta
vendedora.
"O BC não quer o dólar perto de R$ 2 nem muito perto de R$ 2,05. Mas
o detalhe é que, mais para cima, ele tem mais paciência", diz.
O grande fluxo negativo de outubro, na opinião de Tiago Carlos,
economista da Link Investimentos, foi algo pontual, especialmente na
conta financeira, que apenas no último dia do mês registrou saída
líquida de US$ 3,037 bilhões. Nesse dia, além de remessas de lucros e
dividendos, houve também uma saída significativa relacionada ao
pagamento da compra de uma empresa estrangeira por uma corporação
brasileira.
"Pelo volume e pela concentração num único dia, é possível dizer que
foi algo muito restrito. Não significa que saídas volumosas vão ser
tendência agora", disse. Apesar da expectativa de saídas de dólares até
pelo menos dezembro, Carlos acredita que a taxa de câmbio continuará
oscilando entre R$ 2,02 e R$ 2,05. O economista considera que os níveis
ainda elevados do Investimento Estrangeiro Direto (IED) ainda devem
evitar um colapso do fluxo. "Essa conta ainda continua firme. E ainda
tem as captações de empresas, que também não vão deixar o fluxo ficar
ainda mais negativo."
Em outubro, até o dia 19, segundo dados mais recentes do BC, o IED
já somava US$ 3,8 bilhões, mais da metade da previsão do BC para o mês
cheio, de US$ 6 bilhões.
O impacto do fluxo no dólar ontem foi limitado, com a moeda subindo
0,10% a R$ 2,034. Segundo Rodrigues, o ganho na terça foi devido a uma
saída "pontual" de dólares do país, uma vez que o mercado já esperava
fluxo negativo em outubro.
Fonte: Valor Econômico - 08/11/2012
O Brasil que se cuide....
ResponderExcluirAMEAÇA A VISTA.....