Publicidade das lojas Marisa causou protesto de feministas que alegam culto à magreza extrema
Com Pedro Willmersdorf
Ah, o poder da internet. Um comercial na TV de uma rede de moda sobre
a chegada do Verão gerou protestos Brasil afora em lojas da marca e
constantes comentários críticos em sua página oficial no Facebook. A
marca em questão é a rede de lojas Marisa, que, através do comercial
batizado 'Homenagem', tentou "brincar" com as (por vezes) torturantes
dietas às quais algumas mulheres se submetem para ter o corpo 'em dia' e
preparado para a chegada da estação mais quente do ano, quando as peças
diminuem de tamanho e as roupas de banho entram em cena.
A
estratégia foi encarada como machista, preconceituosa e sexista,
alavancando uma série de protestos online e posts em blogs que defendem a
real beleza. Até que a marca, frente à polêmica, decidiu 'abrir espaço'
para uma conversa sobre assuntos femininos, tendo a sua página no
Facebook como arena. Como resultado, recebeu milhares de postagens sobre
a polêmica campanha. "Abriram o espaço, mas a gente está lá,
perguntando, querendo debater a questão, e eles não nos respondem. A
questão vai muito além do machismo: inclui o debate sobre distúrbios
alimentares, como bulimia e anorexia", protesta Roberta Martins,
mestranda em Literatura Feminina, com foco em tipos de gênero, que,
diariamente, publica posts na página oficial da marca, exigindo uma
resposta da rede de lojas.
Enquanto isso, fora da internet, militantes da Casa 8 de Março, no
Tocantins, foram até a porta de uma filial da Marisa, no dia 21 de
outubro, com cartazes à mão, nos quais era possível ler frases de ordem,
como 'Vou pelada, mas não vou de Marisa' e 'Contra a mídia machista'.
No site da instituição, as militantes argumentam: "Fizemos uma
mobilização não violenta contra uma propaganda veiculada pela mídia que
fere a dignidade e os direitos humanos à saúde e à auto-imagem e decisão
sobre o próprio corpo de milhões de meninas, adolescentes e mulheres
brasileiras". Desde então, a série de manifestações só cresceu e
culminou com o protesto do grupo Femen Brazil, realizado ontem (dia 11),
em Belo Horizonte, onde três manifestantes entraram em uma loja da
Marisa de topless, com os corpos pintados, cartazes em mãos e chegaram a
derrubar três manequins do espaço. "Sim, foi vandalismo, mas um
vandalismo simbólico, que demonstra o repúdio pelas atitudes e
comerciais que propagam o desrespeito à diversidade humana e fazem
apologia à ditadura da beleza. Nós gritamos e protestamos, mas não
ferimos e nem atacamos nenhum ser vivo, apenas a ideologia machista das
lojas Marisa", manifestou-se o grupo, em sua página oficial no Facebook.
Outra série de protestos fora da internet está marcada para os dias 18 e
19 de novembro, no Rio, o primeiro, no centro da cidade e o segundo, na
Tijuca. Outros dois já foram realizados, nos dias 4 e 11 passados.
Na
tarde de hoje, o grupo Marisa Lojas S/A divulgou nota sobre o protesto
realizado pelo grupo Femen, no domingo, na loja da Marisa, localizada na
Rua Carijós, 645, Centro, em Belo Horizonte, Minas Gerais. "A empresa
ressalta que respeita o direito de livre manifestação, mas repudia atos
violentos que coloquem em risco seus clientes e colaboradores. Sempre
aberta ao diálogo, a Marisa esclarece que tem muito orgulho de ter
acompanhado a evolução da mulher na sociedade. Há mais de 60 anos no
mercado, a companhia está presente em todos os estados brasileiros e
mais de 70% de seus colaboradores são do sexo feminino".
Na última
semana de outubro, as lojas Marisa publicaram em sua fanpage uma
resposta às críticas até então recebidas. “Em relação ao filme
“Homenagem” da nova coleção de alto verão, a Marisa esclarece que o
intuito foi mostrar, de forma bem-humorada, um tema tão recorrente entre
algumas mulheres nesta época do ano, que é o desejo de estar bem com o
seu corpo para encarar o verão. Não à toa, este é o período de maior
procura por alimentação saudável e academias de ginástica. Uma
verdadeira “luta” a que se propõem tantas mulheres para atingir esse
objetivo e que, de um modo geral, passa pela adoção de uma dieta mais
rica em alimentos menos nocivos à saúde, porém não tão empolgantes para
boa parcela da população. E aí a graça do filme. A companhia, que está
há mais de 60 anos no mercado e é hoje associada à mulher brasileira de
todos os credos, raças e medidas, desenvolvendo sempre coleções
democráticas, acessíveis e trazendo as últimas tendências da moda,
lembra que o bom humor e a irreverência sempre foram marcas das
campanhas da empresa. A Marisa reforça que a peça publicitária não teve
em nenhum momento o objetivo de impor este ou aquele estereótipo,
tampouco de encorajar a adoção de dietas radicais. Mesmo porque a
companhia acredita que sua longevidade se deve a excelente relação que
construiu com seus clientes, parceiros e colaboradores.”
"Foi vandalismo, mas um vandalismo simbólico, que demonstra o repúdio
pelas atitudes e comerciais que propagam o desrespeito à diversidade
humana e fazem apologia à ditadura da beleza", diz Femen
Fonte: Jornal do Brasil Online
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