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segunda-feira, 31 de março de 2014

Maré dominada pelo estado

O Globo
CAPA - O AVANÇO DA PACIFICAÇÃO

Cerca de 1.500 homens entraram no maior complexo da cidade sem reação do tráfico



Tomada. Homens do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais entram no Complexo da Maré a bordo de um veículo blindado. No total, 1.500 homens, entre policiais civis, militares e agentes federais, chegaram à região às 5h

A retomada do território do Complexo da Maré pela forças policiais do estado, realizada ontem, não durou mais do que 15 minutos. Não houve resistência do tráfico. Cerca de 1.500 homens, entre policiais civis, militares e agentes federais, começaram a entrar na região quando o céu ainda estava escuro, por volta das 5h. Na verdade, os preparativos começaram minutos antes, quando preventivamente foram fechadas as pistas das linhas Vermelha e Amarela e da Avenida Brasil, que margeiam a Maré. Apesar do clima pacífico, Gustavo Augusto, de 18 anos, foi encontrado morto pela manhã num dos acessos ao conjunto de favelas, e Vinícius Guimarães, de 15 anos, morreu baleado num confronto a pedradas com outros moradores. Na mesma disputa, outros dois jovens ficaram feridos.

A confusão começou depois que os policiais já tinham avançado para o interior do complexo. Por volta de 12h30m, um grupo de 60 jovens da Nova Holanda e da Baixa do Sapateiro deram início a uma briga em que se enfrentaram com pedras. Embora as duas favelas sejam dominadas por facções criminosas rivais, não há confirmação de que a disputa esteja relacionada à guerra do tráfico. No meio do grupo, havia um homem armado, ainda não identificado, provavelmente o autor dos disparos que feriram três pessoas. Atingido no tórax, Vinícius morreu ao chegar à UPA da Vila do João. Na versão do BPChoque, os policiais militares foram acionados para atender a uma ocorrência na Vila Olímpica próxima à Linha Vermelha. O motivo da confusão teria sido uma discussão entre jovens durante um jogo de futebol. Por causa da morte do rapaz, um grupo foi para a Linha Vermelha atirar pedras nos veículos. Segundo a PM, tentaram fechar a via expressa e 27 pessoas foram detidas e levadas para 21ª DP (Bonsucesso).

Sem se identificar, a mãe de Vinícius admitiu que o filho participava da guerra de pedradas. Segundo ela, ele foi atingido no rosto por um tiro disparado por um bandido da comunidade Nova Holanda, conhecido como Caveirinha. Revoltada, ela disse que não esperava que algo assim acontecesse no dia do início da pacificação:

- Não existe segurança, isso é tudo ilusão.

O avanço da pacificação da Maré, com a entrada do Exército, foi antecipado e está marcado para o próximo domingo, dia 6. A tropa substituirá o Bope e o Batalhão de Choque e, diferentemente das ocupações dos complexos do Alemão e da Penha, em novembro de 2010, contará com o apoio dos fuzileiros navais. A previsão é que as forças de segurança permaneçam no Complexo da Maré até o dia 30 de junho, conforme o decreto da GLO (Garantia da Lei e da Ordem), assinado na última sexta-feira pela presidente Dilma Rousseff.

A ocupação dos militares acontecerá nos moldes da estratégia usada pelas Forças de Paz nas favelas do Haiti. A exemplo de Cité Soleil, uma comunidade plana mas com uma única elevação, a Maré também tem o Morro do Timbau, que foi escolhido para abrigar um posto de observação das Forças Armadas. O local é estratégico porque de lá é possível visualizar a maioria das 16 favelas do conjunto, o maior da cidade, com mais de 120 mil moradores. Também como no Haiti, haverá três bases principais: duas do Exército e uma dos fuzileiros.

Ontem, os primeiros a entrarem nas comunidades foram policiais do Comando de Operações Especiais (COE), que contaram com o apoio logístico de transporte de 250 homens do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais em 21 veículos blindados. Também participaram da operação 130 policias civis da 21ª DP (Bonsucesso), das delegacias de Combate às Drogas (Decod), de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Quatro helicópteros - três do Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar e um da Polícia Civil - sobrevoaram a região dando apoio às ações.

Ainda pela manhã, os policiais apreenderam cocaína, maconha, material para embalar droga e munição nas favelas Nova Holanda e Vila dos Pinheiros. Segundo o balanço divulgado pela Secretaria estadual de Segurança, na manhã de ontem, 14 pessoas foram presas durante a ocupação, dentro e fora das comunidades.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também participou da ocupação com bloqueios em rodovias da Região Metropolitana. Na Ponte Rio-Niterói, foi montada uma operação para evitar a fuga de bandidos para as favelas de Niterói e de São Gonçalo. A PRF divulgou que, durante as operações, foram presas duas pessoas com uma moto roubada na Praia de Ramos; uma pessoa presa por estelionato na Ponte Rio-Niterói, que estava com mandado em aberto; e uma pessoa com um EcoSport roubado na BR-116. Desde o último dia 21, quando começou o cerco à Maré, um total de 118 pessoas foram presas.

Ao longo do dia, alguns moradores reclamaram da redução do efetivo policial. Apesar da ocupação, à tarde, em algumas áreas do complexo de favelas, a quantidade de policiais era bem menor do que o total que chegou pela manhã às comunidades, em especial na Nova Holanda, no Parque União e na Baixa do Sapateiro. No Conjunto Esperança, moradores diziam ter visto poucos policiais.

- Estou desde as 10h sentado na rua lendo, e não vi um policial. Está um dia como outro qualquer - afirmou Antônio Santos, por volta de meio-dia.


Fonte: O Globo/Sinopse MB

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