04/10/2013 - 21h24
- Cidadania
Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Onze anos após a morte do filho, brutalmente assassinado
em Montes Claros (MG) por ser homossexual, Marlene Xavier comemora a
condenação do réu, ocorrida em agosto deste ano. Ela lamenta, no
entanto, que muitas pessoas continuam sofrendo violência física e
discriminação pelo mesmo motivo.Repórter da Agência Brasil
Ao participar, hoje (4), da abertura do 1º
Encontro Nacional do Movimento Mães pela Igualdade, em Brasília,
Marlene defendeu avanços mais rápidos nas políticas públicas voltadas a
essa parcela da população. Até domingo (6), dezenas de mães de
homossexuais e especialistas vão discutir, durante o evento, a
diversidade sexual em vários contextos e trocar experiências.
"As coisas mudaram muito pouco [desde a
morte de Igor Xavier, aos 29 anos, morto ao ser baleado com cinco
tiros], mas aos poucos a gente vai avançando. As pessoas precisam
entender que a homossexualidade não é doença e que os homossexuais são
pessoas absolutamente normais", disse.
Graça Cabral, uma das fundadoras do
Movimento Mães pela Igualdade, explicou que a partir dos debates que
ocorrerão nos próximos dias será elaborada uma carta pública com
propostas concretas, entre elas a garantia de alteração do registro
civil para homossexuais. O documento será encaminhado a parlamentares e
representantes dos três níveis de governo.
Mãe de um rapaz homossexual, ela também manifestou preocupação em relação à violência contra lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros [LGBT]. "Quando meu filho vai a uma festa, eu
ligo no dia seguinte. Se ele não atende, já fico imaginando o que
poderá ter acontecido. Nós, pais e mães de homossexuais, vivemos uma
tensão diária porque a discriminação é assustadora e infelizmente
ocorre, muitas vezes, dentro das próprias famílias", disse. Ela
enfatizou que um dos objetivos do grupo, criado em 2011, é sensibilizar
as famílias que vivem esse tipo de preconceito.
O advogado Luis Arruda, de 36 anos, não
enfrenta esse problema em casa, onde é reconhecido e valorizado
independentemente de sua orientação sexual. Ele lamentou, no entanto,
que sua situação ainda seja exceção entre seus amigos gays.
"Muitos deles vivem situações de constrangimento dentro de casa, o que é
horrível. Precisam, por exemplo, chamar seus namorados de amigos
eternamente", disse o rapaz, filho de Lília Arruda, de 73 anos,
integrante do Movimento Mães pela Igualdade.
Ainda durante o encontro, promovido em
parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos
Humanos da pasta, Biel Rocha, declarou que a Constituição de 1988, que
amanhã (5) completa 25 anos desde a promulgação, trouxe pela primeira
vez um conjunto de medidas de proteção ao direito de grupos vulneráveis.
Em sua opinião, as discussões dos próximos dias servirão para nortear
políticas públicas.
"A Constituição, que amanhã completa 25
anos, estabeleceu um mapa de proteção aos direitos fundamentais para
assegurar a dignidade humana de diversos grupos vulneráveis, como
indígenas, quilombolas, crianças e idosos. [No caso dos homossexuais]
ainda falta muito, mas tenho certeza que esse diálogo é fundamental para
buscarmos inspiração e sugestões para as nossas políticas", disse.
A violência contra a população LGBT no mundo foi discutida, pela primeira vez, no fim do mês passado, por ministros durante um evento da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na ocasião, foi adotada a Declaração Ministerial sobre a Eliminação da
Violência e da Discriminação contra indivíduos com base em sua
orientação sexual e identidade de gênero, endossada pela Argentina, pelo
Brasil, pela Croácia, por El Salvador, pelos Estados Unidos, pela
França, por Israel, pelo Japão, pela Noruega, Nova Zelândia, pelos
Países Baixos e pela União Europeia.
No Brasil, os dados da violência contra homossexuais ainda são imprecisos, o que levou a presidenta
Dilma Rousseff a determinar, no Dia Mundial do Orgulho LGBT, em 28 de
junho, que o governo busque dados estatísticos mais exatos sobre o
assunto. O levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), no
entanto, indicam que foram mortos, no ano passado, 338 integrantes do
grupo LGBT. Desde 2005, quando foram registrados 81 casos, o número
aumentou mais de 300%. Criado em 1980, o GGB é a mais antiga organização
de defesa de homossexuais no país.
Edição: Aécio Amado
Fonte: Agência Brasil
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