22/10/2013 - 15h45
- Cidadania
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Repórter Agência Brasil
Brasília - A indefinição jurídica quanto à posse das terras
reivindicadas como territórios tradicionais indígenas não pode servir
como desculpa para que o Poder Público, especialmente governos locais,
deixe de garantir aos índios brasileiros outros direitos básicos como
educação e saúde. O alerta é da ministra da Secretaria dos Direitos
Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, ao participar
hoje (22) do 1º Fórum Direitos e Cidadania na Visão de Crianças e
Adolescentes Guarani-Kaiowá.
"Temos tido dificuldades para que as
autoridades locais garantam outros direitos [além do usufruto da terra
indígena]. Muitas vezes, o argumento é que, como a área não está
demarcada, determinados benefícios não devem ser entregues para que os
índios não permaneçam no local [em disputa]. Só que esses índios são
cidadãos brasileiros, detentores de direitos básicos que têm de ser
assegurados", declarou a ministra.
"Ainda que um povo indígena não tenha sua área demarcada, ele não
deixa de ter direito ao alimento, à saúde, ao acompanhamento [social].
Suas crianças têm direito à escola, por exemplo", acrescentou a
ministra. Ela qualifica de “ilegítimo” o argumento de que seria uma
irresponsabilidade com os recursos públicos construir uma escola ou
posto de saúde em uma área reivindicada como território tradicional
indígena que a Justiça, ao fim de um longo processo judicial, pode
julgar que não pertence à comunidade indígena.
"Essa disputa judicial leva muito tempo e não pode gerar efeitos
definitivamente danosos a essas crianças, condenando-as a uma infância
sem escolas. Essas pessoas, essas crianças têm outros direitos [além do
usufruto da terra] e, embora o governo federal repasse recursos e possa
apoiar, garantir esses direitos é uma responsabilidade dos governos
locais", concluiu a ministra.
Diante das queixas dos adolescentes de cinco aldeias
guaranis-kaiowás de Mato Grosso do Sul levados a participar do evento,
em Brasília, a representante do Ministério da Educação no fórum, Suzana
Grillo, garantiu que os impedimentos legais que impossibilitavam que
escolas indígenas fossem construídas em áreas em disputa judicial já
foram eliminados, pois violavam a Constituição Federal, que determina
que a educação é um direito fundamental que deve ser garantido a todos.
"Não há mais a exigência de que a terra tenha que ter sido
regularizada para que uma escola seja construída. Isso foi mudado",
disse a representante do MEC, para a surpresa do membro da Aty Guasu
(espécie de colegiado que reúne as lideranças guaranis-kaiowás),
Valdomiro Osvaldo Aquino, e da própria ministra Maria do Rosário.
"A gente ouve do governo estadual [de Mato Grosso do Sul] que a
terra não está demarcada e que, por isso, ele não dá comida, não dá
escola para as crianças, que têm que estudar fora da aldeia", disse
Aquino.
"Eu mesma já ouvi esse argumento. Parece
que até o alimento que enviamos, muitas vezes, não chega [às ocupações e
acampamentos]. E ouvi que não chega porque a terra não pertence aos
índios", acrescentou a ministra, antes de o assessor do Ministério do
Esporte, Rivelino Pereira de Souza, confirmar que muitos prefeitos e
governadores usam tais argumentos para "travar a chegada de políticas
públicas" a comunidades indígenas, principalmente para as que estão
disputando a posse de terras.
"Por isso é importante uma escola nas
aldeias. Uma escola cujo currículo contemple, além de informações sobre
os direitos garantidos a todos os cidadãos brasileiros, também sobre os
direitos específicos dos povos indígenas", comentou Suzana. "O
território é a base para que os índios mantenham seu modo de vida, suas
tradições, mas a regularização e a efetivação do direito à terra não
impede o acesso a direitos fundamentais como a educação e a saúde".
Edição: Davi Oliveira
Fonte: Agência Brasil
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