20/10/2013 - 15h43
- Nacional
Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Se em 1965 doenças como a malária, as infecções
respiratórias e a diarreia eram as principais causas de morte de índios
no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, hoje a doença de maior
incidência entre eles é a hipertensão arterial. É o que mostra pesquisa
coordenada pelo Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista
de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, com o apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado e do Projeto Xingu.
Atualmente, a malária está sob controle. Embora as doenças
infecciosas e parasitárias ainda sejam relevantes em termos de
mortalidade, são os males crônicos não transmissíveis, como a
hipertensão, a intolerância à glicose e a dislipidemia, que mais
cresceram nos últimos anos entre os índios da região.
Para essa pesquisa foram entrevistados e examinados 179 índios
khisêdjês, moradores da área central do Parque do Xingu, no período de
2010 a 2011. A análise dos resultados mostrou a prevalência de
hipertensão arterial (10,3% do total) em ambos os sexos, sendo que 18,7%
das mulheres e 53% dos homens apresentaram níveis de pressão arterial
preocupantes.
A intolerância à glicose foi identificada em 30,5% das mulheres e em
17% dos homens. A dislipidemia (aumento anormal da taxa de lipídios no
sangue) apareceu em 84,4% dos participantes dos dois sexos.
Em entrevista à Agência Brasil, a pesquisadora
Suely Godoy Agostinho Gimeno, coordenadora do estudo Perfil Nutricional e
Metabólico dos Indígenas Khisêdjê, disse que algumas alterações estão
sendo constatadas, principalmente nos últimos 15 anos. Na pesquisa
anterior, divulgada pelo grupo no começo de 2000 e feita com os mesmos
índios, a doença mais relevante era a dislipidemia. “Era impressionante a
proporção [de dislipidemia]. Muito maior que nos estudos que se faz com
população não indígena”, disse ela.
Naquela ocasião, informou a pesquisadora, a incidência de
hipertensão ainda era baixa ou rara nessa população. Mas agora a
hipertensão e a intolerância à glicose cresceram entre os índios, embora
a incidência ainda seja menor quando comparada ao restante da população
brasileira.
De acordo com Suely, entre os fatores que explicam essa
transformação está a maior proximidade com os centros urbanos e a
intensificação do contato com a sociedade não indígena; o aumento do
número de indígenas que exercem atividade profissional remunerada e que
assim, segundo ela, “deixam de pescar e de caçar e, com isso, reduzem
suas atividades físicas”; e o maior acesso a produtos e bens de consumo,
como alimentos industrializados, eletroeletrônicos e motor de barcos.
O quadro atual tem preocupado os pesquisadores, uma vez que o
controle dessas doenças requer condições que nem sempre estão
disponíveis nas aldeias. “Isso tem causado várias preocupações e por
muitas razões. Primeiro, porque muitas dessas doenças requerem condições
que nas aldeias são difíceis de serem alcançadas. Um exemplo é um
indígena diabético que necessita de insulina. A insulina precisa ser
guardada em geladeira. E na aldeia, em geral, não se dispõe de energia
elétrica. A necessidade de refrigeração, nesse caso, é o tempo todo”,
observou.
Outro problema, destacou Suely, é que é preciso o controle de
horário para tomar os medicamentos e para o controle regular da glicemia
e da pressão arterial, que nem sempre estão disponíveis nas aldeias.
“Além disso, são situações novas para eles. O aprendizado para controlar
e manipular não são simples. A forma como eles percebem a doença é
diferente de nós, não indígenas. É um trabalho de longo prazo”,
acrescentou.
Outro resultado que chamou a atenção dos pesquisadores é que muitos
dos índios estão com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade), o que
ocorre em 36% do total de mulheres e 56,8% dos homens. “Atribuímos isso
[o excesso de peso] não à obesidade propriamente dita, mas ao fato de
que os indicadores que utilizamos para avaliar o excesso de peso não são
adequados, uma vez que eles têm uma quantidade de músculos muito maior
que os não indígenas”, disse a pesquisadora.
Para evitar situações como essa, segundo Suely, o fundamental seria
estimular a manutenção do modo de vida dos indígenas. “Para isso, eles
dependem da terra, do rio, do seu território. Manter as terras indígenas
e garantir o território é fundamental”, disse ela.
Edição: Graça Adjuto
Fonte: Agência Brasil
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