21/10/2013 - 14h54
- Nacional
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Pelo menos 83 jornalistas brasileiros foram agredidos
desde junho, quando teve início a onda de protestos no país, segundo
levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji). Quase 80% dos casos, ou 65 agressões, foram resultado da ação
de policiais militares.
Para organizações de direitos humanos e entidades de classe, apesar
de as manifestações terem elevado os números deste ano, a violência
contra profissionais de comunicação tem crescido nos últimos anos. Os
assassinatos, por exemplo, passaram de dois, em 2005, para seis, em
2011, de acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
O presidente da Fenaj, Celso Schröder, cita alguns fatores que
explicam essa curva ascendente de violência contra jornalistas, entre
eles a impunidade. "[As agressões] ocorrem principalmente na cobertura
de política, há um senso comum de que é permitido fazer. É na imprensa
que se dá o confronto direto entre os interesses privados, que sejam
ilegais, com o interesse público, e isso produz reações", declarou em
seminário internacional sobre violência contra jornalistas e o
cerceamento do direito da sociedade à informação. O encontro é promovido
pela comissão organizadora do Prêmio Vladimir Herzog, na capital
paulista.
Um dos casos mais recentes ocorreu nas manifestações do Dia do
Professor, 15 de outubro, com o repórter fotográfico Yan Boechat.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), Boechat foi
espancado por um grupo de policiais militares que tentava impedir que
ele registrasse imagens da agressão a um manifestante. Levantamento do
sindicato contabilizou 23 casos de agressão e cinco detenções de
profissionais de comunicação durante o mês de junho.
O presidente do SJSP, José Augusto Camargo, avalia que esse tipo de
violência não se resolve apenas com ações individuais. "É um problema
pessoal, porque envolve o direito ao exercício da profissão, mas também é
uma questão coletiva, porque cala a voz da sociedade". Para ele, a
escalada de violência percebida no último mês de junho tem paralelo com o
período da ditadura militar. "Não se via isso desde então".
As entidades sindicais defendem a adoção de políticas públicas para
combater esse aumento das agressões, como a formação de um observatório
nacional que monitore as denúncias. "É uma questão que tem nos
preocupado. Desde o ano passado, um grupo de trabalho da Secretaria
Nacional de Direitos Humanos, com organizações da sociedade civil,
discute medidas como a federalização desses crimes", disse Bruno Renato
Teixeira, ouvidor nacional de Direitos Humanos da secretaria. Ele
informou que a criação do observatório deve ser anunciada ainda este
ano.
Schröder propõe a adoção de um protocolo pelas empresas de
comunicação que garanta aos profissionais, entre outras questões, seguro
de vida, equipamentos, autonomia do repórter para a escolha da pauta e a
criação de uma comissão que avalie os enfoques dados às reportagens.
"Boa parte das empresas não dá aos seus jornalistas ferramentas para a
proteção", disse. Ele rejeita a ideia de que o risco é inerente ao
jornalismo. "Não é verdade isso. Uma cobertura jornalística precisa ser
avaliada desse ponto de vista para que possamos minimizar os riscos
quando eles ocorrem", defendeu.
Edição: Graça Adjuto
Fonte: Agência Brasil
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