20/10/2013 - 15h37
- Saúde
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Um novo conceito no tratamento de tumores cerebrais,
batizado informalmente de GPS Cirúrgico, está diminuindo o risco de
pacientes adquirirem sequelas ao passar por um procedimento operatório.
Com recursos de neuroimagem, os médicos mapeiam a atividade cerebral,
identificando as áreas de cada função, como a capacidade motora e a de
compreensão. Assim, é possível identificar as zonas sensíveis que
poderiam ser lesadas. A estratégia está sendo aplicada no Instituto do
Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
De acordo com o neurocirurgião do Icesp Guilherme Lepski, professor
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a cirurgia
clássica exige uma série de informações sobre o tumor, como a
localização, o tamanho, a profundidade, a irrigação sanguínea, mas,
ainda assim, não é possível atestar que uma zona crítica não será
afetada. "Essas áreas não são visíveis. Supomos a localização delas.
Mas, quando existe um tumor, essas áreas se reorganizam e você não pode
prever com certeza onde elas estão", explicou.
Lepski esclarece que a decisão sobre que área atacar é tomada
durante a cirurgia, enquanto o cérebro está anestesiado. "O cirurgião
tem que decidir se vai continuar operando, [se vai] comprar um risco
maior de sequela para que o paciente tenha uma sobrevida mais longa, ou
se vai parar, deixando um pedaço maior de tumor, mas pensando na
qualidade de vida do doente", apontou. A nova abordagem, ao identificar
as funções, possibilita que o médico tenha mais segurança para decidir
sobre uma postura mais agressiva ou não em relação ao tumor.
Uma das técnicas incorporadas envolve a monitorização
eletrofisiológica intraoperatória, que faz o registro constante e em
tempo real de diversas funções neurológicas. O sistema guia o médico
durante a retirada do tumor de maneira semelhante aos sistemas de
navegação automotivos baseados em GPS. Nesse caso, no entanto, o sistema
de navegação se baseia em raios infravermelhos. "Estou vendo o grau de
contração em determinados músculos, estimulando área visual para ver se
estão preservados", exemplificou.
Embora ainda não seja possível dizer qual o percentual de redução de
sequelas com essa nova abordagem cirúrgica, Lepski cita a diminuição do
tempo de internação como um dos ganhos para os pacientes. Ele destaca
ainda que são menores os custos relacionados ao tratamento de
complicações, como paralisia. "Antes, ele precisaria de andador, de
fisioterapia. Se cair, por exemplo, vai precisar ser operado de
urgência. São custos indiretos", apontou.
Além disso, aumenta-se a sobrevida do paciente, já que uma maior
área do tumor pode ser atacada. "A qualidade de vida do doente melhora e
a sobrevida aumenta porque, prestando atenção a essas funções, você
tira mais tumor do que tiraria. O médico não é obrigado a parar [a
cirurgia] antes, por excesso de zelo. Vai além e consegue retirar mais",
relata.
O procedimento é indicado para pacientes diagnosticados com tumores
do próprio tecido cerebral, que se situam próximo às partes mais nobres
do cérebro. "A técnica convém para tumores dentro do cérebro, sejam
benignos ou malignos, desde que localizados nessas áreas", esclareceu.
Uma média de 24 pacientes é atendida pelo setor de neurocirurgia do
Icesp e cerca de metade é beneficiada com a nova estratégia cirúrgica.
Edição: Davi Oliveira
Fonte: Agência Brasil
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