Nada obriga os partidos a se curvarem às evidências. Aliás, o que mais
fazem é virar as costas a elas, conforme indica a falta de "encaixe"
entre eles e o público pagante. Legalmente estão autorizados a ignorar
as condenações do Supremo Tribunal Federal e os que tiverem dirigentes
mandados à prisão podem tocar em frente sem se dar ao trabalho de
excluí-los de seus quadros ou destituí-los de suas funções.
O leitor e a leitora disseram alguma coisa sobre compromisso moral? Não
percam seu tempo. Pelo que se ouve no PT, PP, PTB e PR (antigo PL) a
tendência é levar ao paroxismo a condição de entidades de direito
privado com inteira autonomia sobre as respectivas vidas. Ou seja, o STF
condena, mas para eles isso é indiferente. O PR, por exemplo, tratou de
reconduzir o deputado Valdemar Costa Neto ao cargo de secretário-geral
dias depois de o tribunal declará-lo culpado por corrupção passiva,
ativa, lavagem de dinheiro e peculato. Na undécima hora ele foi
beneficiado pelo empate na votação por formação de quadrilha.
O PTB dá ao seu presidente licenciado, Roberto Jefferson, o tratamento
de mártir denunciante que merece ser "homenageado", segundo o deputado
Arnaldo Faria de Sá, e nem sequer cogita abrir discussão sobre punição.
O PP informa que examinará a situação de Pedro Henry e Pedro Corrêa –
integrantes da Executiva Nacional do partido e condenados por corrupção
passiva –, depois da conclusão do julgamento. Mas adianta desde já: não
há a menor disposição nem sequer para admoestá-los.
O PT é o único a ter no estatuto a previsão de expulsão para condenados
em última instância. Neste ponto segue um critério da Constituição
quando estabelece perda de mandatos eletivos pela mesma razão. No
entanto, o partido tende a afirmar sua "independência" alegando que uma
coisa é a Justiça, outra muito diferente é a política. Não obstante a
lei seja uma coisa só e, em tese, igual para todos.
Espectador
Há 12 anos cassado pelo Senado, condenado a 31 anos de prisão por crimes
relativos a desvio de dinheiro das obras do Tribunal do Trabalho de São
Paulo, o empresário Luiz Estevão não perde uma sessão do julgamento do
mensalão. "Se não vejo, ouço e acho tudo muito bom", diz enquanto se
ajeita na cadeira do avião onde hoje, se alguém o reconhece daquele
tempo de exposição como réu, guarda a lembrança para si.
Ele acompanha com entusiasmo, primeiro porque considera que o Supremo
está impondo um freio de arrumação nos meios e modos da prática da
ilegalidade na política. "As coisas sempre foram assim, nos municípios,
nos estados e no plano federal. Agora o Supremo está dizendo que quem
quiser continuar fazendo assim vai ter de arcar com as consequências",
aponta, falando naturalmente de cadeira.
O segundo motivo para Luiz Estevão olhar com agrado para as decisões do
STF tem a ver com o próprio processo, cujo recurso à sentença do
Tribunal Regional Federal de São Paulo será julgado no ano que vem no
Superior Tribunal de Justiça. Se perder, pensa em recorrer ao Supremo
reivindicando as mesmas penas impostas a Marcos Valério.
A punição que recebeu por dois crimes semelhantes foram três vezes mais
duras. Por uma ocorrência de corrupção e outra de peculato, o operador
do mensalão foi condenado a três anos em cada. Luiz Estevão pegou nove
anos por corrupção, nove por peculato e dois anos e meio por formação de
quadrilha, a única condenação igual à de Valério.
No cômputo final Valério receberá muito mais que os 31 anos de Luiz
Estevão porque responde pelo dobro de crimes. Por isso é que o primeiro
senador cassado da História do Brasil – e, até Demóstenes Torres, o
único – não concorda com as críticas feitas ao Supremo por excesso de
rigor. "Não diria que o tribunal está sendo brando, mas bastante
moderado."
Fonte: O Estado de S. Paulo - 28/10/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comente