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sábado, 13 de outubro de 2012

Brasil está entre 5 maiores reservas de gás não convencional. Nos EUA, preço despencou

Ramona Ordoñez e Bruno Rosa
R$ 340 bi em rochas 

Enquanto o Brasil ainda discute o marco regulatório para a exploração do petróleo da camada do pré-sal, cuja descoberta foi anunciada em 2008, uma verdadeira revolução energética está ocorrendo no mundo, embalada pelo aumento da produção do chamado gás natural não convencional em países como Estados Unidos e China. Só nos EUA, o avanço de 45% na produção nos últimos seis anos reduziu seus preços para US$ 3 por milhão de BTU (medida internacional do gás). No Brasil, o valor cobrado pela Petrobras fica entre US$ 10 e US$ 11. A forte queda nos preços atraiu companhias para os EUA, o que já acendeu a luz amarela no governo brasileiro, que admite preocupação com essa concorrência. O temor é que projetos no país sejam afetados.

Mas o Brasil também pode participar dessa revolução energética. Acredita-se que o país tenha a quarta ou quinta maior reserva do mundo de gás não convencional, com um total de 17 trilhões de metros cúbicos, segundo estimativas da consultoria Gas Energy, com base em dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). Se apenas 5% dessas reservas fossem exploradas, seria gerada uma riqueza de R$ 340 bilhões, levando em conta R$ 0,40 o metro cúbico. Hoje, as reservas de gás natural convencional são de 450 bilhões de metros cúbicos.

O gás natural convencional é o mesmo do não convencional. O que muda é a jazida onde é encontrado. No caso do gás não convencional, as rochas são muito pouco permeáveis (ou "fechadas"), o que dificulta sua exploração. Os mais conhecidos são o gás de xisto e o tight gas . E, por essas rochas serem "fechadas", é preciso fazer uma série de rachaduras, para permitir a liberação desse gás, usando água com aditivos químicos, o que levanta discussões ambientais. Já no caso do gás natural, as rochas são permeáveis, usando técnicas tradicionais de exploração.

Para ambientalistas, risco é alto
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), há indicação de um potencial de até 5,7 trilhões de metros cúbicos (ou 200 trilhões de pés cúbicos) somente em três bacias, como Parecis, Parnaíba e Recôncavo. Há ainda indícios desse gás em outras bacias, como as do Paraná, Acre e São Francisco.

- O Brasil está ameaçado na questão da competitividade porque as indústrias, que consomem muita energia ou que usam gás como matéria-prima, como a de fertilizantes e a petroquímica, estão encontrando nos EUA condições ótimas. Como o Brasil vai crescer sua indústria petroquímica e de fertilizantes? - pergunta Marco Tavares, sócio da Gas Energy.

Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, diz que os primeiros passos já estão sendo dados. Apesar dos dilemas ambientais, de que a água, com material tóxico usado no fraturamento pode contaminar os lençóis freáticos, Magda lembra que já foram feitos estudos nas bacias, com uma indicação de potencial desses recursos em terra:

- Há uma febre de curiosidade em torno do gás não convencional. Os números nos Estados Unidos chamam a atenção e os volumes de produção serão expressivos até 2035. Mas estamos dando um passo, para permitir dar outros. Estamos em um bom caminho. Há muito "oba oba" (sobre o assunto). Há 15 anos, não se falava em gás.

Alexandre Szklo, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, ressalta que há barreiras regulatórias e ambientais à exploração. No centro do impasse, está o uso da água para fraturar esses poços:

- A França ainda não decidiu se isso é ou não adequado do ponto de vista ambiental. Nos EUA, onde a regulamentação do uso de água é estadual, Nova York é o único estado que ainda avalia essa técnica. Mas no Brasil não se discute isso. Como o país vai ser um grande produtor de hidrocarbonetos no futuro, é preciso definir políticas.

Os ambientalistas acreditam que essa água, uma vez armazenada na rocha, vai migrando até atingir o lençol freático, contaminando rios e causando riscos à população e a animais. Pelo fato de a exploração ter começado com pequenas empresas americanas, os cuidados com o meio ambiente não eram o principal foco de preocupação. Mas especialistas acreditam que esse cenário tem mudado com a entrada de grandes companhias no segmento, que passaram a adotar técnicas que retiram toda a água usada na exploração.

Por outro lado, ambientalistas afirmam que boa parte dessas empresas não investe o necessário em técnicas que reduzem o impacto ambiental e social. Carlos Maurício Ribeiro, sócio do escritório Vieira Rezende e especialista em Direito Ambiental, destaca os grandes volumes de água usada no processo - que chegam a 200 caminhões-tanque em alguns dias de exploração. Além disso, ressalta que um dos elementos químicos usados na água é o benzeno:

- O benzeno é altamente tóxico. Já houve casos nos EUA em que a água da torneira de casas pegou fogo. E, como em qualquer outra exploração, há risco desse gás escapar, liberando metano.

Setor petroquímico no país em risco
Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Energia do Greenpeace, alerta que o metano é um dos principais causadores do efeito estufa:

- O perigo é que o metano contribui mais para o aquecimento global do que o gás carbônico. Então, todo o avanço que se tem com o uso do gás, que emite menos CO2 em relação a outras fontes, como o carvão, é neutralizado.

Empresários e até o governo federal também são unânimes em afirmar que será preciso definir uma política industrial no país para enfrentar a forte competição que virá das empresas nos EUA. A própria presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, já disse que o gás de xisto dos EUA é "imbatível".

- Como enfrentar a competição com as indústrias norte-americanas será um problema não só do Brasil, mas de todo o mundo. E o governo brasileiro está avaliando essa questão - disse uma fonte do governo.

Mas o pior está por vir. Especialistas alertam que, em 2015, os EUA se tornarão exportadores de itens petroquímicos básicos, que dão origem a plásticos para embalagens, brinquedos e até conservantes para alimentos.

- A petroquímica renasceu nos EUA, com grandes companhias voltando a operar ou ampliando sua produção. Um fator que facilita os preços baixos dos EUA é que já há toda uma rede de gasodutos instalada, facilitando o escoamento - lembra Szklo.

Para analistas, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, em construção pela Petrobras e pela Braskem, pode até ter a viabilidade econômico-financeira ameaçada com importações de petroquímicos dos EUA. O diretor de Comunicação Empresarial da Braskem, Nelson Letaif, garantiu que a companhia continua decidida a tocar o projeto. Fernando Musa, vice-presidente da unidade dos EUA e Europa da Braskem, destaca que o gás no mercado americano está muito atraente para projetos petroquímicos.

Fonte: O Globo / Sinopse do Comando da Marinha 

 
 

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