PAÍS
André de SouzaA sabatina do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Teori Zavascki - indicado pela presidente Dilma Rousseff para integrar o Supremo Tribunal Federal (STF) - foi suspensa ontem na Comissão de Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e será retomada apenas depois das eleições de 7 de outubro.
Senado. Zavascki, sobre o mensalão: 'Quando se
trata de um julgamento colegiado, não é um juiz que chega a um
tribunal que vai determinar quando ou onde vai participar'
Senadores oposicionistas e independentes vinham reclamando da
pressa do Planalto em indicar o ministro e tentar aprovar sua
indicação no Senado. O temor era que, uma vez no Supremo, Zavascki
pedisse vista e adiasse o julgamento do mensalão às vésperas do item
sobre o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, acusado de corrupção ativa e
formação de quadrilha.
Ontem, durante a sabatina, o ministro avisou que a decisão
sobre participar do julgamento do mensalão não é do ministro, mas do
colegiado do STF. Ou seja, quem tem que decidir se ele poderá participar
ou não é o plenário:
-
Quando se trata de um julgamento
colegiado, não é um eventual juiz que chega a um tribunal que vai
determinar quando ou onde vai participar. Existem regras. E essas
regras são controladas pelo órgão colegiado.
Zavascki fez questão de elogiar a regra que veda a
participação de juiz que não assistiu a apresentação do relatório do
processo ou perdeu a parte dos debates. A apresentação do relatório da
ação penal do mensalão ocorreu no início de agosto e ele não estava
presente. O ministro ressalvou, no entanto, que caso venha a se
considerar apto a votar, não poderia pedir vista.
- A regra diz que, em princípio, juiz que não ouviu
relatório e não participou dos debates não participa de julgamento. E
parece que essa regra é correta, em nome ao princípio da ampla defesa.
Tem uma ressalva: salvo se o juiz se der por habilitado. Dar-se por
habilitado significa estar em condições de votar imediatamente.
Significa uma contradição dar-se por habilitado e pedir vista - disse
ele aos senadores.
Porta aberta para análise de embargos
Mas Zavascki não fechou todas as portas, deixando aberta a
possibilidade de analisar recursos ou embargos ao julgamento do
mensalão, por exemplo. Por isso, alegou que não poderia falar
diretamente sobre o processo do mensalão, porque a lei orgânica da
magistratura impede que um juiz se pronuncie sobre um caso ainda em
andamento.
-
Nesse caso que está em andamento no STF
eu não tenho ideia do que terei que decidir, se for decidir. De modo
que eu não acho que eu possa ou deva me pronunciar sobre esse caso que
está em curso no STF - disse.
O ministro não escondeu o desconforto sobre os
questionamentos a respeito de sua participação no julgamento do
mensalão.
-
Espero ter dado os devidos
esclarecimentos sobre essa questão, que me deixa pessoalmente muito
desconfortável - afirmou, de olhos marejados.
Zavascki se manifestou sobre outro ponto polêmico que se
reflete no julgamento do mensalão. Afirmou que, em sua opinião, a
perda de mandato parlamentar para réus que forem condenados pela Corte
não é automática. Hoje, existe a dúvida se a decisão do Judiciário
precisa ou não ser chancelada pela Câmara. Há três deputados que são
réus no mensalão: Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e
Pedro Henry (PP-MT).
Ao término da sessão, que foi interrompida pelo início da
ordem do dia, a maioria dos parlamentares entendeu que não foi possível
concluir se o ministro pretende ou não participar do julgamento do
mensalão.
- Ele não concluiu nem em resposta ao segundo inquisidor.
Responder ou não é um direito dele. Votar contra ou a favor é um
direito do senador. Se não se sentir satisfeito com a resposta, pode
votar contra. O voto é secreto - afirmou o presidente da CCJ, senador
Eunício Oliveira (PMDB-CE).
O líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), foi um dos poucos que interpretou a fala de Zavascki:
- Ele deixou implícito que é impossível ter conhecimento
pleno dos fatos sem participar de todos os procedimentos durante o
julgamento. Portanto, para um bom entendedor, ficou claro que o
ministro está impedido de participar e que só participaria se houvesse
uma decisão do pleno do Supremo.
Tenso, Teori chegou a se emocionar durante a sabatina,
quando questionado sobre sua suspeição para atuar no julgamento do
mensalão. Perguntado sobre como se sentiu a respeito das insinuações
de que não estaria habilitado para participar do julgamento por
motivos políticos, limitou-se a dizer:
- Vocês viram o que aconteceu, né?
Zavascki minimiza valor de eventual voto
Ainda durante a sabatina, Zavascki tentou minimizar a
importância de um eventual voto dele no mensalão. Sem mencionar o
caso, ele descartou a hipótese de que o voto de um décimo primeiro
ministro (o STF conta com dez ministros atualmente) possa desempatar
um processo penal. Segundo ele, em empate, deve prevalecer a opção
mais vantajosa ao réu, ou seja, a absolvição. Assim, um voto a mais
somente confirmaria a absolvição ou, pelo contrário, condenaria o réu.
O Supremo, no entanto, ainda não decidiu que mecanismo será usado
caso haja algum empate na ação do mensalão.
Zavascki também falou sobre o parecer favorável que deu,
em 2010, como ministro do STJ, à absolvição do petista Antonio Palocci,
em processo por improbidade administrativa, relativo à gestão na
prefeitura de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A decisão da
1ª Turma do STJ foi unânime e abriu caminho para que Palocci se
tornasse ministro da Casa Civil, no governo Dilma. Em seu voto,
Zavascki disse que não se pode confundir ilegalidade com improbidade:
- A jurisprudência que foi aplicada naquele caso é o
entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça em muitos casos
semelhantes. Nós não podemos suspender direitos políticos de um prefeito
ou de um governador porque teve problema de composição de uma
comissão de licitação, por má interpretação da lei. Temos aí uma
ilegalidade, mas não um ato que importe sanção tão grave como é a
perda do cargo.
Duranta a sabatina, por 14 votos a seis, um requerimento
do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) pedindo o adiamento da
sabatina foi derrotado. Antes do começo da sabatina, o presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou que houvesse pressa ou pressão
para aprovar o nome de Teori:
-
Não há pressa. Não há decisão.
Ninguém (do governo) falou comigo para que tomássemos essa decisão de
apressar a votação do ministro com outros objetivos. Está seguindo
normalmente, conforme manda o regimento.
Fonte: O Globo /Sinopse do Comando da Marinha
Senado. Zavascki, sobre o mensalão: 'Quando se
trata de um julgamento colegiado, não é um juiz que chega a um
tribunal que vai determinar quando ou onde vai participar'
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