Em meio a um clima de incerteza sobre a eleição presidencial de 7 de
outubro e de apreensão sobre se os dois lados aceitarão uma derrota,
as Forças Armadas da Venezuela saíram a público para dizer que
respeitarão e farão respeitar o resultado das urnas, seja ele qual for.
Anteontem, após reunião com o comando de campanha do presidente Hugo
Chávez, candidato à reeleição, e de seu adversário, Henrique Capriles,
o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Wilmer Barrientos, disse
que a votação "deve ser uma festa democrática, e não um processo
carregado de angústias, como tem ocorrido geralmente na Venezuela".
"As Forças Armadas atuarão com contundência ante qualquer foco de
violência, venha de onde vier", disse. "Nós solicitamos a todos os
atores políticos que, assim como as Forças Armadas vão respeitar a
vontade do povo, eles também o façam, que respeitem a vontade do
árbitro [o povo] e que nenhum se adiante a dar resultados."
A dez dias da eleição, os venezuelanos não sabem exatamente quem
lidera a corrida presidencial. Chávez lidera na maioria das pesquisas,
que porém apontam o crescimento de Capriles nas últimas semanas. Mas os
resultados são muito distintos entre si, variando de 25 pontos a favor
do presidente a 5 pontos a favor do rival.
Há ainda apreensão entre os venezuelanos com a possibilidade de
haver instabilidade política caso Chávez, há 14 anos no poder, seja
derrotado nas urnas. Um dos principais focos dessa apreensão é
justamente a reação das Forças Armadas, cujo alto comando foi todo
nomeado pelo atual presidente.
Tanto chavistas como opositores admitem o risco de instabilidade,
sobretudo se o resultado das eleições for apertado. Governistas acusam
Capriles de ainda não ter dito abertamente que aceitaria uma derrota. E
apontam que, mesmo em votações em que o chavismo ganhou por margens
superiores a dez pontos, houve protestos nas ruas e acusações de
fraude.
Do lado da oposição e dos empresários, o discurso é de confiança nos
militares. E aponta-se para declarações dadas no passado pelo
presidente Hugo Chávez, de que "as Forças Armadas são chavistas", e do
ministro da Defesa, Rangel Silva, para quem "as Forças Armadas não
aceitariam um outro chefe que não seja chavista, ou seja, eu".
Para Héctor Briceño, professor do Centro de Estudos de
Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela (UCV), o temor de
uma rebelião das Forças Armadas ante a uma eventual derrota de Chávez
se justifica pelo fato de que a Constituição de 1999 deu poderes ao
presidente para decidir sobre e rever as promoções militares, sobretudo
nas patentes médias e altas. "Isso abriu a possibilidade de a ascensão
não corresponder necessariamente aos méritos militares e deu espaço à
parcialidade política", diz. Além disso, para ele está claro que
"alguns indivíduos" dentro das Forças Armadas deram a entender que não
aceitariam uma derrota de Chávez.
Para Briceño, porém, "o grosso das Forças Armadas", inclusive o alto
comando, deve optar pela institucionalidade, ou seja, aceitar uma
eventual vitória de Capriles.
Algumas entidades da sociedade civil e da Igreja Católica planejam
para a semana que vem um culto multirreligioso para pedir paz nas
eleições. Entre essas organizações, está a Fedecámaras, maior grêmio
empresarial do país e que participou ativamente do fracassado golpe de
Estado contra Chávez em 2002 - seu presidente à época, Pedro Carmona,
assumiu o governo por dois dias - e da greve petroleira que paralisou o
país por quatro meses, entre o final daquele ano e o início de 2003.
Seu presidente, Jorge Botti, no entanto, diz que a autocrítica já foi
feita.
"Ainda que a decisão tenha sido pessoal [de Carmona], o presidente
de uma entidade como a nossa não pode assumir a Presidência em um
contexto como esse."
Fonte: Valor Econômico - 28/09/2012
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