Autor(es): Por José de Castro | De São Paulo
O mercado cambial
brasileiro deve iniciar a semana se ajustando ao movimento de desvalorização do
dólar no mundo ocorrido na sexta-feira, quando os negócios no país estavam
suspensos por causa do feriado de 7 de Setembro. A provável queda da cotação da
moeda americana tem um motivo específico: a decepção com o desempenho do
mercado de trabalho americano em agosto, que elevou as apostas dos investidores
de que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, anunciará medidas
de estímulo econômico no curto prazo.
Os EUA geraram em termos líquidos 96 mil empregos em agosto, bem
abaixo da estimativa de 125 mil, de acordo com pesquisa da Dow Jones Newswires.
Os números decepcionaram o mercado, que esperava dados mais fortes, já que na
quinta-feira foi anunciada a criação líquida de 210 mil vagas no setor privado
no mês passado, acima da expectativa de 145 mil.
Na sexta-feira, o ICE U.S. Dollar Index, que mede o desempenho da
divisa americana em relação a uma cesta de seis moedas, renovou a mínima desde
meados de maio. Ao mesmo tempo, o euro - que responde por mais da metade dessa
cesta - bateu US$ 1,2806 na máxima do dia, maior nível desde a cotação de US$
1,2815 alcançada em 22 de maio.
A expectativa de que o Fed anuncie medidas de suporte à economia
já nesta semana - que poderiam vir na forma de uma terceira rodada de
afrouxamento quantitativo, ou "QE3" - impulsionou também moedas de
perfil semelhante ao real. O dólar australiano, por exemplo, subiu a US$ 1,0398
na máxima do dia, enquanto a lira turca atingiu 1,7963 por dólar, maior patamar
em duas semanas.
Por aqui, a expectativa não é diferente. Caso se ajuste ao
movimento externo da sexta-feira, o dólar pode inclusive perder o patamar de R$
2,02, o que aumentaria as chances de uma nova intervenção do Banco Central.
Vale lembrar que o BC tem emitido sinais claros de que defenderá o piso de R$
2.
No fim de agosto, por exemplo, a autoridade monetária não rolou o
equivalente a US$ 4,1 bilhões em swap cambial tradicional que venceram no
início de setembro, provocando um efeito líquido de compra de dólares. Há cerca
de três semanas, quando o dólar atingiu R$ 2,007, o BC vendeu swaps reversos
pela primeira vez desde março, o que afastou a taxa de câmbio do nível de R$ 2.
Dessa forma, a percepção de que o BC seguirá atuante no câmbio
leva profissionais do mercado a minimizarem o impacto de eventuais ingressos de
recursos ao país na esteira do anúncio de medidas pelo Banco Central Europeu
(BCE) e também na expectativa de uma medida semelhante nos EUA.
"Não acredito em grandes fluxos por conta disso, mas, mesmo
que eles venham, certamente o BC vai agir e enxugar essa liquidez excedente, o
que deve ajudar a manter o dólar acima dos R$ 2", diz o economista-chefe
do Rabobank Brasil, Robério Costa. "No geral, a impressão que tenho é de
que o fluxo vai ser suficiente apenas para manter o dólar estável, sem grandes
flutuações", afirma, prevendo um saldo cambial negativo de US$ 3 bilhões
entre setembro e dezembro deste ano.
Depois do anúncio do BCE na quinta-feira e da divulgação do
"payroll" de agosto, abaixo do esperado, no dia seguinte, os mercados
devem operar em compasso de espera até quinta-feira, quando o Fed decidirá o
rumo da política monetária daquele país. Não se espera mudança na taxa básica
de juros, mas os mercados vão monitorar se o banco central americano confirmará
um "QE3" ou sinalizará o anúncio mais à frente.
Até lá, a safra de indicadores mais aguardada virá da China.
Destaque hoje para os números já divulgados sobre a produção industrial, as
vendas no varejo e a balança comercial do país - todos referentes ao mês
passado. No caso de dados mais fracos que não sejam acompanhados de
sinalizações de suporte pelo BC chinês, os ativos de risco podem amargar
perdas, principalmente moedas de países que mantêm fortes relações comerciais
com a China, como Brasil e Austrália.
Fonte: Valor Econômico - 10/09/2012
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