A divulgação de dados econômicos negativos na Europa e nos Estados
Unidos associada ao cenário pessimista sobre a China feito por um
integrante do governo foram mais fortes no mercado de juros doméstico
que as revisões para cima de estimativas para inflação e para Selic,
captadas pelo Boletim Focus.
Seguindo o rendimento de títulos do governo americano, as taxas
projetadas na BM&F caíram: o contrato com vencimento em janeiro de
2013 cedeu para 7,27% ante 7,28% sexta-feira, e o de janeiro de 2014
caiu de 7,78% para 7,76%.
"Não há crescimento mesmo", disse o sócio-diretor da Título
Corretora, Marcio Cardoso, sobre a cautela dos investidores que
ressurge a cada rodada de indicadores econômicos frágeis. "E a crise
não vai se resolver apenas com injeção de liquidez."
O ambiente externo foi mais influente que vetores domésticos que
poderiam puxar para cima as taxas. No Boletim Focus, a projeção para a
taxa Selic no fim do ano subiu de 7,25% para 7,50%, enquanto a mediana
para o IPCA aumentou pela 11ª semana consecutiva, de 5,26% para 5,35%.
Ainda no mercado de juros, os investidores acompanharam o relatório
da dívida pública federal, que alcançou patamar histórico de
participação estrangeira: 13,34%. Para Marcio Cardoso, a maior presença
desse aplicador é reflexo da maior liquidez. "Apesar da crise, o
estrangeiro olha o Brasil, uma economia sem ruptura, com uma taxa de
retorno bastante atraente para quem quer assumir o risco em real."
O dólar fechou em alta de 0,15%, a R$ 2,026, com o mercado ainda
intimidado pelas declarações da semana passada do ministro da Fazenda,
Guido Mantega, ameaçando intervenções mais pesadas no câmbio, como
aumentos nas compras do governo e no Imposto sobre Operações
Financeiras para estrangeiros, caso o real se valorize. A maior aversão
ao risco no exterior também influenciou a alta de ontem.
"O governo está ganhando no grito", disse Reginaldo Siaca,
superintendente de câmbio da Advanced Corretora. "Como o Mantega falou
em mexer no IOF caso entre muito dinheiro no país, o mercado fica
apreensivo."
Segundo Siaca, o fluxo cambial continua positivo, mas muito longe do
"tsunami" de liquidez temido pelo governo após a nova rodada de
estímulo anunciada nos EUA. Além disso, é cada vez mais consenso no
mercado que uma queda do dólar abaixo de R$ 2,02 eleva
significativamente as chances de o Banco Central intervir, defendendo o
piso de R$ 2 para a moeda. Isso deixa o mercado travado, com
volatilidade e volume reduzidos.
"O mercado de câmbio está um marasmo. E esse marasmo vai continuar por um bom tempo", disse.
Agora, o aumento no fluxo deve vir das captações de empresas
brasileiras no exterior, como a realizada ontem pela Petrobras, que
levantou € 2 bilhões e 450 milhões de libras com a venda de títulos,
escreveu o economista-chefe da Planner Corretora, Eduardo Velho, em
nota a clientes.
Fonte: Valor Econômico 25/09/2012
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