Nas Entrelinhas
Autor(es): Denise Rothenburg
Ninguém em sã consciência acredita hoje que o Supremo Tribunal Federal condenou grande parte do núcleo financeiro para aliviar agora na hora de julgar os políticos. E isso vai deixar o eleitor ainda mais distante dos políticos tradicionais na hora de votar
Obrigados a correr atrás do prejuízo em São Paulo, onde José Serra saiu do alto da preferência do paulistano há alguns meses para suar a camisa em busca da vaga num segundo turno, os tucanos paulistas talvez tenham sido os primeiros a perceber a separação entre a classe política e o cidadão comum nesses tempos de julgamento do mensalão, CPI do Cachoeira e por aí vai. Invariavelmente, alguns deles têm feito o seguinte teste quando reúne grupos de eleitores: "Quem acredita em política levanta a mão". Menos de 10% dos presentes erguem o braço no mesmo instante.
Diante dessa constatação, muitos chegam ao ponto de remeter a situação de São Paulo ao que ocorreu no fim do governo Sarney, quando todos os conhecidos e experientes candidatos a presidente da República foram derrotados pelo jovem governador de Alagoas, Fernando Collor, e pelo "sapo barbudo", Lula, que só viria a conquistar a presidência 13 anos depois daquela eleição.
Guardadas as devidas proporções, estão aí o "novos", Celso Russomanno, em São Paulo; e Ratinho Júnior, em Curitiba. Todos vistos como "gente diferente", "da tevê", nomes que o eleitor não associa muito à política, logo, não vincula aos sucessivos escândalos que tomam conta do noticiário. E, pelo andar da carruagem, os escândalos estarão cada vez mais na ordem dia, com os políticos entrando na roda do julgamento a partir desta segunda-feira. Afinal, ninguém em sã consciência acredita hoje que o Supremo Tribunal Federal condenou grande parte do núcleo financeiro para aliviar agora na hora de julgar os políticos. E isso vai deixar o eleitor ainda mais distante dos políticos tradicionais na hora de votar.
Para tentar fugir dessa sina, José Serra, por exemplo, decidiu ir para a rua, sair dos eventos fechados. A intenção é olhar nos olhos de cada um dos eleitores a fim de convencê-los de que está mesmo disposto a terminar a sua carreira política como prefeito de São Paulo. Fernando Haddad, por exemplo, vai tentar mostrar que está tão longe dessas confusões quanto a presidente Dilma Rousseff, que, aliás, deverá participar do último comício da campanha paulistana. Eventos que fazem barulho, mas não resgatam o eleitor para a crença no campo da política, poucos foram craques nessa tarefa até hoje.
Memória
Nas últimas eleições, foram poucos os candidatos que levaram a discussão para o campo da política, como fez Mário Covas contra Paulo Maluf, em 1998, na disputa pelo governo de São Paulo. Num debate — que não era tão engessado quanto os de hoje —, Covas fugiu à regra de deitar promessas "na educação...", "na saúde..." e entrou direto naquilo que nesses tempos de hoje cala fundo ao eleitor: "Maluf, com você quero discutir caráter". Covas, então, começou a dizer que isso era importante, que seu adversário não estava na campanha das diretas, lembrou aos telespectadores que Maluf apoiara a ditadura militar e que, para escolher um candidato, o eleitor deveria conhecer a história de cada um, de que lado estavam, o que já haviam feito pela vida das pessoas. Covas saiu dali com novo fôlego para conquistar um segundo mandato de governador. Infelizmente, não conseguiu terminar o mandato por causa do câncer descoberto no ano seguinte.
Nas últimas eleições, foram poucos os candidatos que levaram a discussão para o campo da política, como fez Mário Covas contra Paulo Maluf, em 1998, na disputa pelo governo de São Paulo. Num debate — que não era tão engessado quanto os de hoje —, Covas fugiu à regra de deitar promessas "na educação...", "na saúde..." e entrou direto naquilo que nesses tempos de hoje cala fundo ao eleitor: "Maluf, com você quero discutir caráter". Covas, então, começou a dizer que isso era importante, que seu adversário não estava na campanha das diretas, lembrou aos telespectadores que Maluf apoiara a ditadura militar e que, para escolher um candidato, o eleitor deveria conhecer a história de cada um, de que lado estavam, o que já haviam feito pela vida das pessoas. Covas saiu dali com novo fôlego para conquistar um segundo mandato de governador. Infelizmente, não conseguiu terminar o mandato por causa do câncer descoberto no ano seguinte.
Até aqui, ninguém nesta eleição tem se preocupado em levar o debate para o campo da política e do caráter como fez Covas naquele dia. E quem está em Brasília, distante do calor das campanhas e dedicado a se preocupar com a rodadas seguintes a outubro de 2012, está cada vez mais convencido de que, nessa época em que o eleitor lutou tanto para aprovar a Lei da Ficha Limpa, talvez logo ali na frente seja a hora da discussão do caráter voltar à cena política.
Enquanto isso, na Petrobras...
A empresa adiou pela segunda vez a nomeação de José Carlos Amigo para diretor internacional da Petrobras, deixando a bancada peemedebista de Minas Gerais mais estressada. Para completar, o gerente de Marketing e Comercialização, José Raimundo Pereira, entrou na lista de nomes cotados para a função. Ou seja, se brincar, Amigo ficará a ver navios e a bancada do PMDB de Minas também. Mas essa é outra história.
A empresa adiou pela segunda vez a nomeação de José Carlos Amigo para diretor internacional da Petrobras, deixando a bancada peemedebista de Minas Gerais mais estressada. Para completar, o gerente de Marketing e Comercialização, José Raimundo Pereira, entrou na lista de nomes cotados para a função. Ou seja, se brincar, Amigo ficará a ver navios e a bancada do PMDB de Minas também. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense - 16/09/2012
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