Autor(es): MÔNICA CIARELLI , MARIANA DURÃO
Por pressão do governo, o Tribunal de Contas da União (TCU) retirou da pauta de investigação um processo contra quatro terminais privativos
Às vésperas do anúncio pelo governo das medidas de estímulo ao setor
portuário, o Tribunal de Contas da União (TCU) retirou da pauta um
processo que aponta irregularidades na atuação de quatro terminais
privativos no País. O adiamento, segundo apurou a "Agência Estado", foi
uma determinação do governo para evitar ruídos que tumultuassem a
divulgação do pacote.
Uma fonte no gabinete do relator admite a intervenção do governo no
julgamento do TCU. O adiamento foi decidido após um telefonema da
ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR), ao relator do
processo, o ministro do TCU Raimundo Carreiro. "É uma questão de não
perder tempo. Imagina se o TCU faz uma série de recomendações e a MP já
as contempla? É técnico. Perde o objeto. Por isso o ministro atendeu o
pedido", diz a fonte.
Na quarta-feira da semana passada, logo após a sessão do TCU, Ary
Braga, a chefe de gabinete do ministro Raimundo Carreiro, revelou a um
interlocutor a orientação do governo para que o caso saísse do circuito
até que as novas regras do setor viessem a público. O ministro já
havia preparado o seu voto. Procurada pela Agência Estado, a assessoria
da Casa Civil não se manifestou.
Na prática, a recomendação seria que a Antaq tomasse providências
para regularizar a situação desses terminais. Entre elas, estabelecer
os volumes mínimos de carga própria a ser movimentada por eles e como
solucionar a questão para aqueles autorizados antes da Resolução
517/2005, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), e o
decreto 6.620/08, que criou essa restrição aos terminais privativos. A
decisão do TCU seria embasada no marco regulatório pré-pacote, o que
poderia abrir brecha para questionamentos.
Em nota, o TCU confirmou que foi informado pelo ministério sobre o
pacote e diante de uma possível alternação no desfecho do processo,
optou por aguardar o novo marco regulatório. Essa foi a segunda vez que
o caso foi retirado de pauta pelo relator desde setembro, quando a
área técnica do TCU concluiu o parecer sobre a ilegalidade das
atividades nesses portos. Fontes no setor argumentam que o relatório
técnico está bem completo e não haveria motivos para a demora no
julgamento.
Os alvos do TCU são os terminais de Empresa Brasileira de Terminais
Portuários (Embraport, SP),Portonave (SC), Cotegipe (BA) e Itapoá (SC).
O assunto foi encaminhado ao TCU pela Federação Nacional dos
Portuários (FNP), em 2009. A briga de entidades como a Associação
Brasileira dos Terminais de Conteineres Públicos (Abratec) contra esses
terminais privativos de uso misto (TUPM) é antiga. Elas pedem
isonomia, alegando que apesar de autorizados pela Antaq como
privativos, eles operam carga de terceiros, prestando um serviço
público.
Mesmo sem comprovar a operação de carga própria relevante, esses
terminais de uso misto operam sob regras mais flexíveis, enquanto os
terminais públicos arrendados à iniciativa privada têm ônus, como pagar
arrendamento à União.
A interferência da ministra do julgamento do TCU ocorreu algumas
semanas após o escândalo da máfia dos pareceres, desvendado pela
Operação Porto Seguro, ter vindo à tona. Um dos maiores negócios
flagrados na investigação foi o complexo portuário da Ilha de Bagres
(São Paulo) do ex-senador Gilberto Miranda. No cargo de advogado geral
adjunto da União, José Weber Holanda, teria ajudado o ex-senador na
aprovação do projeto de um complexo portuário de R$ 2 bilhões na ilha
de Bagres, área de proteção permanente ao lado do porto de Santos.
Fonte: O Estado de S. Paulo - 06/12/2012
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