Autor(es): Artur Rodrigues
Até uma criança de 12 anos se envolveu no incêndio do ônibus que
terminou anteontem com a morte de duas pessoas no Jaçanã, zona norte de
São Paulo, segundo a Polícia Civil. A investigação concluiu que 14
pessoas participaram da ação, incluindo seis adolescentes. Testemunhas
afirmam que os agressores demonstraram crueldade e não deram chance
para que as vítimas saíssem do coletivo, incendiado em protesto contra a
execução de um jovem praticada por policiais militares.
Todos os envolvidos foram apontados por um adolescente que também
participou da ação. O rapaz resolveu dizer quem eram os responsáveis
porque, durante o incêndio, tentaram matá-lo. Em seu depoimento, disse
que os jovens apreendidos estão envolvidos com o tráfico de drogas na
região do Jardim Brasil. A afirmação bate com a apuração da polícia,
que constatou que pelo menos sete dos 14 acusados já passaram pela
Fundação Casa.
O menino de 12 anos e os demais adolescentes foram encaminhados à
entidade. A mãe do garoto, uma auxiliar de limpeza de 37 anos, afirma
que ele chegou depois que o ônibus estava pegando fogo. Segundo ela, o
garoto só estava na rua por volta das 3h de domingo porque foi a uma
balada acompanhado da irmã, de 16 anos. "Ele foi até lá porque tinham
matado um rapaz. Não botou fogo em nada", diz. "Na delegacia, pedi para
deixarem ele ir comigo. Mas não deixaram. Ele ficou chorando, agarrado
às minhas pernas", afirma.
Três dos detidos foram encontrados por policiais em hospitais, quando
passavam por tratamento de queimadura, e confessaram o crime. No
entanto, negaram ter tido intenção de matar as vítimas.
A investigação aponta que o crime foi premeditado. Uma hora depois da
morte de Maycon Rodrigues de Moraes, de 19 anos, e de um outro rapaz
ser baleado por PMs da Força Tática, quatro rapazes de bicicleta
chegaram a um posto de gasolina na Avenida João Simão de Castro. Os
jovens compraram seis garrafas de combustível. Na ocasião, segundo o
depoimento de uma testemunha ouvida pela polícia, teriam dito que
queimariam um ônibus para vingar a morte do amigo.
O delegado titular do 73º Distrito Policial (Jaçanã), Mário Guilherme
da Silveira Carvalho, disse que a investigação ainda não acabou.
"Estamos apurando quem é o mandante do crime e se há mais envolvidos."
Os detidos serão responsabilizados por homicídio, incêndio, corrupção
de menores e formação de quadrilha. Um outro adolescente, envolvido no
incêndio do segundo ônibus, também foi detido.
PMs. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)
constatou que seis PMs da Força Tática assassinaram Maycon Moraes e
tentaram matar um colega dele - crime que motivou os protestos.
Testemunhas viram os dois rapazes descendo de um Passat com as mãos
para o alto, sem reagir, e depois sendo baleados. Os PMs estão presos
pelo crime e devem ser expulsos, caso essa versão seja comprovada.
Fonte: O Estado de S. Paulo - 11/12/2012
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