Autor(es): EDUARDO CUCOLO, CÉLIA FROUFE, EDUARDO RODRIGUES
"O que se ganha com a desvalorização do real se perde com inflação e
não se ganha competitividade", diz presidente do BC em depoimento no
Senado
A valorização do dólar pode não trazer os benefícios esperados pelas empresas brasileiras se for acompanhada de um avanço da inflação. O recado foi dado ontem pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Tombini afirmou que é preciso avaliar o comportamento do câmbio real -
o preço da moeda descontada a inflação - e não seu valor nominal. Isso
porque, se os índices de preços subirem muito, o ganho de
competitividade obtido com a desvalorização da moeda brasileira pode
ser perdido.
"Aquilo que se ganha com a desvalorização do real se perde com
inflação e não se ganha competitividade", afirmou. Para o presidente do
BC, qualquer movimento relativo ao câmbio deve ser feito "preservando o
controle da inflação".
O dólar passou a custar mais reais no mercado local há duas semanas,
depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou o fraco desempenho da economia no terceiro trimestre do ano.
Alguns analistas passaram a apostar que a equipe econômica deixaria o
real perder valor ante a moeda americana para ajudar a indústria. O
problema é que esse movimento encarece os produtos importados, o que
pode pressionar os índices de preços no Brasil.
Desde então, o governo vem operando - com intervenções no mercado e
comentários de autoridades - para que o dólar não oscile muito.
Anteontem, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, disse
que há uma "gordura" na taxa de câmbio, ou seja, o dólar está valendo
mais do que deveria estar.
Leilão. Além da fala de Tombini, o Banco Central informou ontem que
fará hoje um novo leilão de venda de dólares das reservas
internacionais, que pode chegar a US$ 1,5 bilhão. O anúncio foi feito
logo após o encerramento dos negócios, em um dia em que a moeda subiu
0,10%, para R$ 2,08.
O impacto da alta do dólar na inflação está entre os fatores que
levaram o governo a mudar o discurso e a sua linha de atuação no câmbio
desde o início do mês. Nesse período, foram realizadas intervenções
para segurar a alta das cotações. Também foram revistas duas medidas
cambiais, desta vez para estimular a entrada de moeda estrangeira no
País.
No teto. No ano passado, o IPCA - índice "oficial" de inflação -
subiu 6,5%, o teto da meta fixada pelo governo. Este ano, até novembro,
o indicador acumulou uma alta de 5,01%. Analistas acreditam que ele
fechará o ano com um avanço de 5,58%. Para 2013, a projeção é de uma
alta de 5,4%.
"O importante é que o BC fique focado em assegurar a estabilidade e
que a inflação convirja para centro da meta", disse Tombini, que voltou
a insistir que a política de juros definida pelo Comitê de Política
Monetária (Copom) é a melhor forma de assegurar que os índices de
preços vão convergir para o patamar de 4,5% no próximo ano.
Ontem, o presidente do BC citou a moderação na alta do dólar como um
dos fatores que vão contribuir para a queda da inflação no próximo ano.
Tombini afirmou que o regime é flutuante, ou seja, não há uma cotação
fixa determinada pelo governo. Isso, no entanto, "não deve ser visto
como um incentivo para apostas que exacerbam a sua volatilidade".
Fonte: O Estado de S. Paulo /Portal ClippingMP - 12/12/2012
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