PAÍS
Ex-presidente também conversa com marqueteiro e cúpula do PMDB
Cristiane Jungblut e Fernanda Krakovics
Enquanto a presidente Dilma Rousseff cumpre agenda oficial nos EUA, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem a Brasília para uma série de reuniões com dirigentes e parlamentares do PT, com a cúpula do PMDB e com o marqueteiro João Santana. À noite, durante quase quatro horas de reunião, Lula disse a deputados e senadores do PT que é preciso fazer o enfrentamento político da Operação Lava-Jato, segundo relato de participantes. Ele também teria afirmado que é preciso virar a página do ajuste fiscal e investir em uma agenda positiva para o país.
— Ele (Lula) disse que precisamos fazer um enfrentamento, que as denúncias não vão parar. Foi uma reunião para zerar o jogo e tentar rearrumar as coisas — disse um parlamentar petista.
Depois de fazer duras críticas ao governo Dilma e ao PT nas últimas duas semanas, Lula adotou ontem tom mais conciliador. E cobrou atuação mais contundente dos petistas na defesa de seu projeto:
— Ele falou da necessidade de a bancada atuar como um coletivo na defesa do governo e do PT, de enfrentar a oposição com o mesmo radicalismo que eles nos enfrentam — disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE).
O ex-presidente também insistiu na necessidade de o PT ter um discurso mais propositivo:
— Lula disse que é preciso virar a página. O ajuste está sendo concluído. Temos que passar para a agenda do crescimento econômico — disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
CELULARES FORA DA SALA
Lula também telefonou para o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), citado na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa. A campanha de Lula em 2006 também foi citada na delação de Ricardo Pessoa como tendo recebido R$ 2,4 milhões da UTC.
A presença de Lula em Brasília não agradou ao Planalto. A avaliação é que a movimentação do ex-presidente agrava a crise gerada com o depoimento de Pessoa. Em encontro com a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e Mercadante, os governistas avaliaram que o encontro de Lula com parlamentares do PT traria mais ruído e acabaria ofuscando a viagem de Dilma aos EUA.
— Esse encontro já estava marcado, mas só aumenta a crise — disse um participante do encontro.
Reclamando, segundo pessoas próximas, que o ministro José Eduardo Cardozo ( Justiça) não controla a PF, Lula passou a atacar o governo Dilma e a criticar também o PT, que, de acordo com o ex-presidente, envelheceu e “só pensa em cargos”. Na reunião de ontem, Lula exigiu que deputados e senadores petistas deixassem os celulares do lado de fora da sala para evitar vazamentos.
Ministros e assessores do Planalto também consideraram equívoco a estratégia de Dilma de pôr o ministro da Justiça no foco da crise gerada pelo depoimento de Pessoa, ao participar da entrevista dos ministros Edinho Silva e Mercadante, no último sábado. Na ocasião, ambos se defenderam das acusações de que receberam recursos ilegais do empreiteiro.
Fonte: Sinopse da Marinha/O Globo
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