Jihadistas capturam até oito distritos em província afegã, ameaçando desestabilizar ainda mais a região
Combatentes leais ao Estado Islâmico (EI) registraram pela primeira vez importantes ganhos territoriais no Afeganistão, tomando áreas de rivais do Talibã, em uma nova ameaça para a estabilidade da região, segundo moradores e autoridades locais. Militantes do grupo teriam capturado até oito dos 21 distritos da província de Nangarhar, no Leste do país.
Testemunhas que fugiram de combates em Nangarhar relataram que centenas de insurgentes leais ao Estado Islâmico expulsaram talibãs da área, queimando campos de papoula que ajudam a financiar a campanha do Talibã para derrubar o governo afegão. Jihadistas distribuíram panfletos supostamente enviados pelo líder do EI e autodeclarado califa, Abu Bakr al-Baghdadi, dizendo “o que as pessoas devem e não devem fazer e advertindo-as sobre muitos crimes”.
Simpatizantes do grupo têm-se mostrado implacáveis, supostamente decapitando vários comandantes talibãs. O êxito em assumir o controle de vastas faixas territoriais no Iraque e na Síria deixa claro os riscos para o Afeganistão. Em Nangarhar, os extremistas são descritos como organizados e bem financiados, apesar de o Talibã negar a presença de ramificações do EI na região. Várias pessoas disseram que o grupo de Baghdadi tem muito dinheiro, e alguns viram militantes vendendo ouro, algo incomum para a área.
— Eles chegaram em muitas picapes brancas montados com grandes metralhadoras e lutaram contra o Talibã. O Talibã não pôde resistir e fugiu — contou Haji Abdul Jan, um ancião tribal do distrito de Achin.
Jan, que viu os confrontos no início de junho antes de fugir para a capital da província, Jalalabad, disse que alguns moradores deram boas-vindas aos recémchegados. Segundo ele, o EI proibiu venda de cigarros nas lojas.
— Ao contrário do Talibã, eles (EI) não forçam os moradores a alimentá-los e a abrigá-los. Em vez disso, têm muito dinheiro em seus bolsos e gastam com comida, atraindo jovens moradores para se juntarem a eles.
De acordo com a chefe do conselho provincial, Ahmad Ali Hazrat, e do membro do Parlamento de Nangarhar Haji Hazrat Ali, os distritos apreendidos são seis: Kot, Achin, Deh Bala, Naziyan, Rodat e Chaparhar. Já o porta-voz do Exército local, Noman Atefi, disse que o EI tinha estabelecido presença em sete ou oito distritos. E que batalhas entre militantes rivais estão em curso nos distritos de Khogyanie Pachir Agam.
ESTRANGEIROS NA LUTA
Segundo testemunhas, militantes do EI, em sua maioria dissidentes do Talibã desiludidos com a tentativa mal sucedida de retornar ao poder em Cabul, estão acompanhados por dezenas de militantes estrangeiros.
Há relatos ainda de que a bandeira negra do EI foi içada em algumas áreas, e os combatentes estrangeiros pregam nas mesquitas usando tradutores. A identidade dos insurgentes não afegãos não é conhecida. Centenas de militantes de todo o mundo se escondem ao longo da fronteira entre Afeganistão e Paquistão.
Enquanto o governo central controla a vasta maioria do Afeganistão, forças de segurança lutam para conter a insurgência do Talibã em Nangarhar, após a maioria das forças da Otan se retirar há seis meses.
O Talibã, que emitiu sua própria advertência para o EI não interferir no Afeganistão, reconheceu perda de terreno em Nangarhar, mas não confirmou que seus rivais sejam do Estado Islâmico.
— Eles são ladrões e bandidos. Em breve vamos limpar essas áreas e livrar os moradores — disse o porta-voz do Talibã Zabihullah Mujahid.
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