- 21/06/2015 15h39
- Rio de Janeiro
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Edição: Lílian Beraldo
Centenas de pessoas e representantes de religiões
se reuniram hoje (21), na Vila da Penha, zona norte do Rio de Janeiro,
em um ato contra a intolerância religiosa e em apoio à menina Kayllane Campos, 11 anos, vítima de agressão no último dia 14.
Com cartazes que sugeriam “Compartilhar o Amor”, “Mais amor, por
favor”, “Deus ama você, sou cristão da paz”, “Basta! Não à intolerância!
Respeito. É bom, eu quero!”, os manifestantes defendiam a liberdade
religiosa.
O babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão
de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), não quis responsabilizar
instituições pelo ato, mas condenou a atitude de líderes religiosos que
incitam a intolerância. Para ele, a caminhada de hoje reafirmou “o
Estado Democrático de Direito e o respeito a todos, que é o que todos
nós queremos”.
A secretária de Assistência Social e Direitos
Humanos do estado do Rio de Janeiro, Teresa Cosentino, disse que a
família de Kayllane recebeu apoio do Poder Público. “Nós damos o apoio
psicológico que a família precisa, o apoio jurídico, e nós trabalhamos
continuamente contra todo tipo de intolerância e preconceito”. Segundo
Teresa, é inadmissível que a sociedade não seja fraterna e “não
respeite o direito do outro”.
A secretária defende uma ampla
agenda de direitos humanos. “A gente vai trazendo outros segmentos que
não são religiosos, mas sofrem tanto preconceito, tanta intolerância
como os segmentos religiosos. Na verdade, acho que a gente tem que unir
todas as pessoas que sofrem algum tipo de discriminação, de preconceito,
de apartheid. Porque eu posso ter uma pessoa da umbanda, que é gay; uma mulher que é muçulmana e não pode trabalhar porque usa o véu. Tem uma questão sexista e de religião.”
O
chefe de gabinete do Comando-Geral da Polícia Militar do Rio, coronel
Íbis Silva Pereira, classificou como "abominável" o episódio ocorrido
com Kayllane. “Isso é inaceitável. Qualquer pessoa que tem o sentido do
que é viver em uma democracia, tem que estar desse lado, contra todo
tipo de opressão e de intolerância”, destacou.
O superintendente
de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria de
Assistência Social e Direitos Humanos do estado do Rio de Janeiro,
Cláudio Nascimento, anunciou que, em agosto, a secretaria vai iniciar um
trabalho de formação com a Polícia Militar.
O intuito é formar 6
mil policiais, em todas as regiões do estado, contra a intolerância e
pela liberdade religiosa. Nascimento disse que iniciativa semelhante foi
feita com a Polícia Civil, nos anos 2013 e 2014, com a instrução a
quase 4 mil policiais sobre como lidar com as demandas das diversas
comunidades religiosas.
“A gente percebeu que é fundamental
avançar também para a Polícia Militar, para preparar quem faz o
policiamento ostensivo de que o papel da polícia é, inclusive, o de
proteger o legado, a história e a liberdade de expressão de todos os
segmentos religiosos”. O serviço de atendimento do governo fluminense a
vítimas de intolerância religiosa é feito por meio do telefone (21) 2334-9550.
O pastor da Igreja Batista da Vila da Penha, João Melo, esteve no evento para manifestar a posição de repúdio à agressão.
O
padre José Rosa Afonso, da paróquia Jesus Ressuscitado, da Penha,
também esteve presente. “Deus ama a todos, quis salvar a todos e a fé
não se impõe a ninguém; se propõe. Cada um tem a liberdade de escolha”,
disse o pároco. Ele avaliou que a agressão à menina foi fruto de um
fanatismo religioso que gera intolerância na sociedade.
O padre
destacou que a Igreja Católica é aberta ao diálogo ecumênico e
interreligioso com cristãos e não cristãos. ”Não está certo matar em
nome de Deus e praticar violência em nome de Deus, em nome da religião. A
religião deve religar os homens a Deus, não dividir as pessoas.”
Fonte: Agência Brasil
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