Publicação: Sexta-feira, 02/08/2013 às 20:37:00
O dia mais decisivo para 25 policiais militares acusados no caso Carandiru, em 1992, foi nesta sexta-feira, 02, com o plenário cheio e uma novidade: o Ministério Público anunciou que eles eram culpados por 52 e não mais pelas 73 mortes no 2º andar do Pavilhão 9 da Casa de Detenção.
Logo no início dos debates, a última fase do júri antes da sentença, o promotor Fernando Pereira da Silva avisou aos jurados que pediria a absolvição dos PMs por 21 mortes. "Não queremos cometer injustiças", disse. Ele levou em conta o fato de que três detentos tiveram suas mortes atribuídas a brigas entre os próprios presidiários, e quatro vítimas morreram em outro pavimento. Além disso, outros 14 detentos foram mortos no corredor direito do andar, e os réus entraram pelo lado esquerdo, segundo as provas no processo.
A sustentação da Promotoria foi recheada de outros números para demonstrar que houve execução no Carandiru. De acordo com os dados do laudo do Instituto Médico-Legal, dos 52 mortos, 37 tinham perfurações com trajetórias diferentes, e mais da metade das vítimas recebeu 2, 3 ou 4 tiros na região da cabeça e pescoço. Além disso, no andar onde os 25 réus entraram não houve nenhum sobrevivente dentre os detentos que foram alvejados. Entre os réus, segundo o promotor Eduardo Canto, só um não estava envolvido em resistência seguida de morte até 2010. "Eu não sei como (os réus) conseguem dormir. Isso é repugnante", afirmou.
Mas números também foram usados pela defesa para mostrar que a Justiça está equivocada. "Nove mortos só tinham estiletadas", disse a advogada Ieda Ribeiro de Souza, que sugeriu que esses assassinatos fossem investigados entre os detentos.
Segundo Ieda, trata-se de um julgamento político, contra a instituição da PM. "Quem deveria estar aqui é o dr. Fleury (governador de São Paulo em 1992)." Mas a promotoria tentou deixar claro que a intenção era punir os policiais e não a corporação. "Não se trata de um julgamento da polícia de São Paulo, mas de uma conduta criminosa", disse Silva.
Ieda fez referência às duas testemunhas protegidas, ligadas ao sistema penitenciário. Elas foram usadas para convencer os jurados da violência dentro da prisão e de que não havia como estabelecer onde cada detento vivia.
A defesa também exibiu imagens de detentos mortos em rebeliões em presídios, com corpos de homens queimados, esfaqueados e degolados. Familiares dos réus e PMs na plateia ficaram de olhos vidrados. Para a promotoria, as mortes do Carandiru são diferentes, fruto de violência policial.
A expectativa é que a sentença saia entre a madrugada e a manhã deste sábado, 03. (Colaborou Victor Vieira)
Fonte: Agencia Estado/clicabrasília
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