24/08/2013 - 18h22
Leandra Felipe
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Bogotá - Depois de seis dias de bloqueios de rodovias,
os manifestantes do Protesto Nacional Agrícola na Colômbia, mantêm hoje
(24) 18 rodovias bloqueadas no país e os problemas de abastecimento são
mais perceptíveis à população das regiões afetadas e até na capital do
país. Os manifestantes acusam integrantes do Esquadrão Móvel
Antidistúrbios de abuso no uso da força para conter os manifestantes.
O departamento mais afetado foi Boyacá, no centro do país, que está
praticamente isolado. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV),
que havia pedido que as missões médicas, fossem respeitadas durante a
semana, enviou hoje uma caravana humanitária para levar insumos de
emergência aos hospitais do departamento, que sofrem com o
desabastecimento de remédios.
“O abastecimento dos hospitais é muito importante e muito
preocupante. Vários hospitais estão quase esgotando suas reservas de
material médico e medicamentos”, explicou Jordi Raich, chefe do CICV na
Colômbia.
Segundo um comunicado, emitido neste sábado, foram registrado 28
casos de ataques às missões e bloqueios de passagem de ambulância desde
que os protestos foram iniciados na última segunda-feira. Um dos
incidentes causou a morte de uma pessoa que não pode receber
hemodiálise.
Em Bogotá, os efeitos principais são sentidos no abastecimento de
produtos. Feiras livres e alguns centros de abastecimento da capital,
Bogotá, já começam a faltar alguns produtos alimentares. “A batata, a
ervilha e o arroz não chegaram esta semana e também vemos que os
estoques de frutas estão terminando”, disse à Agência Brasil o feirante Ignácio García, que trabalha em uma feira livre da cidade.
Os preços também começam a subir e é notado por donas de casa.
Amalfe Ruiz disse que o arroz e a batata já estão mais caros. “O quilo
de arroz estava custando 2 mil pesos [R$ 2,47] e em uma semana está mais
do que o dobro do preço, 5 mil pesos”, calcula.
Os manifestantes denunciam que, após seis dias de protestos, a
polícia tem agido com violência para tentar conter os protestos. Diante
das denúncias, o diretor da polícia, general Rodolfo Palomino, escreveu
em sua conta no Twitter que ordenou uma investigação dos casos
denunciados.
“Estou atento às denúncias de excessos de alguns policiais e por
isso ordenei uma investigação para todos os casos”, escreveu. Palomino
também pediu que os manifestantes não “se deixem persuadir por pessoas
violentas dentro do movimento”. Segundo o general, cerca de 123
policiais foram feridos por arma de fogo, explosivos e golpes de pedra.
O governo mantém-se firme em sua posição de não dialogar, enquanto
continue o bloqueio nas rodovias. “Fiz um chamado aos manifestantes para
que fiquem em casa ou protestem de maneira que não viole os direitos
das outras pessoas”, defendeu o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón,
em uma entrevista coletiva ontem.
O movimento é formado por pequenos produtores rurais, arrozeiros,
cafeicultores, caminhoneiros e mineiros. Há várias reivindicações como o
repasse de recursos aos camponeses, melhores condições de trabalho,
redução do custo de produção e transporte e até mesmo reivindicações
políticas, como “a substituição da política neoliberal adotada pelo
governo”.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), já declararam
apoio ao movimento e pediram que o governo não criminalize os
manifestantes. Analistas acreditam que as manifestações têm a ver com o
momento político vivido pelo presidente Juan Manuel Santos – que negocia
a paz com as Farc e que pretende se candidatar à reeleição no próximo
ano.
“Aqui na Colômbia é normal, quando se aproximam as eleições, que as
manifestações e protestos se intensifiquem, ainda mais agora em que o
país está negociando com as Farc,” disse à Agência Brasil o professor de Ciência Política, Benjamin Herrera, da Pontifícia Universidade Javeriana em Bogotá.
Na opinião de Herrera, o governo terá que ter bastante habilidade
para contornar a insatisfação popular e dialogar com o movimento. “Há
muitas promessas e intenções, mas a população que está reivindicando
melhorias não viu mudanças na prática, por isso está indignado”, diz
Herrera.
Edição: Fábio Massalli
Fonte: Agência Brasil
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