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sábado, 24 de agosto de 2013

Dólar força reajustes

Autor(es): DIEGO AMORIM » ROSANA HESSEL
24/08/2013

Megaintervenção do BC derruba a cotação da moeda em 3,2%, para R$ 2,353, mas a indústria avisa que os custos de produção já subiram e, por isso, vai corrigir as tabelas entre 7% e 12% no próximo mês. Celular, bebidas e alimentos estão nessa lista

O governo comemorou ontem os resultados da megaintervenção anunciada pelo Banco Central, que resultará na injeção de mais US$ 60 bilhões no mercado até o fim do ano. Depois de ter atingido R$ 2,45 na quarta-feira, a maior cotação desde 2008, a moeda norte-americana fechou a semana valendo R$ 2,353, registrando expressiva queda de 3,23%. Mas esforço algum será suficiente para impedir que o novo patamar da taxa de câmbio contamine os preços e prejudique o orçamento das famílias. A depender do segmento empresarial, as tabelas serão reajustadas em até 12%.

Grandes importadores do país não acreditam em recuos maiores do dólar até o fim do ano e já renegociam as encomendas para o Natal. No caso dos alimentos e das bebidas, a arrancada da moeda norte-americana encarecerá os produtos entre 8% e 12% no início de setembro, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), Adilson Carvalhal Júnior. O nível de importação das empresas, informou ele, caiu 10% desde junho.

Já no setor de eletroeletrônicos, bastante dependente de suprimentos importados, os preços devem subir de 7% a 12% no próximo mês. Computadores e, sobretudo, celulares, que têm quase 90% das peças trazidas de fora, custarão mais. “Não há escapatória. Portanto, quem puder antecipar as compras de Natal, que o faça, porque esses aparelhos estarão bem mais caros no fim do ano”, aconselhou o diretor de pesquisa da Consultoria IT Data, Ivair Rodrigues.

Diante dos sinais emitidos pelas empresas, o Ministério da Fazenda decidiu aumentar a vigilância da economia, para conter abusos. O entendimento do governo é de que, com a ação do Banco Central, que totalizará intervenções de US$ 105 bilhões, pois US$ 45 bilhões já foram despejados no mercado, é de que não há mais motivo para estresse ou especulação. A tendência, disseram integrantes da equipe econômica, é de que a divisa dos Estados Unidos se estabilize em um patamar mais próximo de R$ 2,30. “O importante é que haja previsibilidade. A economia não pode conviver com tantas incertezas, sendo o câmbio um fator importantíssimo para a formação dos preços da economia”, disse um técnico.

Falta de confiança
Quase tudo o que é vendido no Brasil está atrelado ao dólar de alguma forma. Para compensar as transações mais caras, as companhias se dizem obrigadas a reajustar os preços. “Desta vez, a variação cambial assusta mais, porque há um grave problema de descrédito com o país. A falta de confiança entre os empresários é muito alta”, sublinhou Carvalhal.

Uma das alternativas do governo para conter os repasses exagerados de preços é reduzir impostos sobre importados. Uma lista com centenas de produtos já foi divulgada neste mês, justamente para compensar a alta do dólar. “Sabemos que já está havendo repasses, mas em proporções pequenas, uma vez que a atividade está mais lenta que o desejado. Ou seja, os consumidores estão retraídos, com elevado endividamento, e não têm aceitado arcar com aumentos de preços fora do normal”, acrescentou outro integrante da equipe econômica.

Ele reconheceu que ainda é cedo para acreditar que os resultados das intervenções do BC são para valer. Mas admitiu que a presidente Dilma Rousseff deposita muita confiança na medida, como forma de manter a inflação sob controle e de evitar que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana, seja obrigado a elevar tanto os juros. A expectativa dos analista é de que, na quarta-feira, quando o BC baterá o martelo, a taxa básica (Selic) passe dos atuais 8,50% para 9% ao ano. “O consenso dentro do governo é de que o aumento da Selic será de 0,5 ponto percentual, para acalmar os ânimos do mercado e reforçar a visão dos investidores de que se está trabalhando em todas as frentes para corrigir eventuais distorções”, frisou um assessor do Palácio do Planalto.

O Walmart é um dos grandes varejistas que começou a refazer o planejamento para o fim do ano, de acordo com o vice-presidente da marca no Brasil, Alain Benvenuti. A empresa reduziu em 15% o volume de importados para o Natal e intensificou as negociações com os fornecedores locais, na intenção de tentar absorver o impacto da escalada do dólar.

Como o consumo no país caiu nos últimos meses, os estoques do varejo estão acima da média, o que pode ser uma vantagem para os consumidores neste momento de forte desvalorização do real. “É possível encontrar produtos de linhas mais antigas, com preços 20% abaixo dos registrados nos”, destacou o diretor da Consultoria IT.

O impacto da mudança do câmbio, explicou o consultor, revela um problema estrutural no Brasil: as indústrias sem fumaça, que fabricam produtos com componentes basicamente vindos do exterior. “Celulares, por exemplo, são montados aqui com quase todas as peças importadas. A tela de um televisor de LCD, item que responde por 90% do custo total do produto, também vem de fora”, emendou.

Antes de mexer na tabela, os atacadistas decidiram esperar um pouco mais. Mas aumentos podem surgir, também em setembro. “Vamos ter o pé no chão. Não é hora de elevar preço. Porém, se a situação do câmbio continuar ruim, não teremos escolha”, disse o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), José do Egito Frota Lopes.


» Sem escapatória

Mesmo que o impacto nos preços não existisse, o dólar descontrolado não é bom para o Brasil, acrescentou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. Ele reforçou que, ao mesmo tempo em que potencializa as exportações, a desvalorização do real eleva os custos da produção interna, uma vez que boa parte dos insumos — no caso do agronegócio — tem cotação internacional. São commodities.



Fonte: Correio Braziliense

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