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sábado, 24 de agosto de 2013

Dólar abre buraco de US$ 9 bi

Rombo externo de US$ 9 bi
Autor(es): SIMONE KAFRUNI
24/08/2013

Moeda americana encarece importação de combustíveis pela Petrobras e eleva o deficit do Brasil nas transações correntes para US$ 9 bilhões


Necessidade de importação de combustíveis pela Petrobras, que sofre com os preços congelados, faz com que o deficit das transações correntes dobre de tamanho em julho e atinja o maior nível da história para o mês. No acumulado do ano, está em 3,4% do PIB


A defasagem no preço dos combustíveis não afeta apenas o caixa da Petrobras, está batendo fundo também nas contas externas do país. Conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central, o rombo nas transações correntes do Brasil com o exterior atingiu, em julho, US$ 9 bilhões, o pior resultado da história para o mês. Em relação a junho (US$ 4 bilhões), o buraco mais que dobrou. O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, creditou o resultado, principalmente, à balança comercial deficitária, por causa da conta petróleo.

No ano, o deficit nas transações correntes já alcança US$ 52,5 bilhões, também o maior para o período. Nos 12 meses terminados em julho, o rombo atingiu US$ 77,7 bilhões, o equivalente a 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB), superando as estimativas da autoridade monetária para todo o ano, de US$ 75 bilhões. O buraco em relação ao PIB acendeu o sinal de alerta dos especialistas. Não sem motivo, pois explicitou a necessidade cada vez maior do país por recursos estrangeiros para fechar as contas em um mundo mais arisco, diante da decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, de reduzir os estímulos à principal economia do planeta.

Maciel tentou minimizar a situação, alegando que o volume de investimentos estrangeiros diretos, voltados para a produção, continua forte, financiando a maior parte do rombo. Os números, porém, apontam que tais recursos estão longe de dar alívio. Em julho, somaram US$ 5,3 bilhões, pouco mais da metade do buraco das transações correntes. Em 12 meses, o saldo dos investimentos bateu em US$ 62,3 bilhões, uma diferença de US$ 15 bilhões para o deficit externo.

“Os fluxos de financiamento ainda são favoráveis. Temos outras fontes, como os mercados de capitais e de títulos. É um padrão normal os investimentos diretos não financiarem integralmente o deficit em transações correntes. Devemos fechar 2013 com uma taxa de 3,2% em relação ao PIB”, afirmou Maciel. O buraco de 3,4% é o maior em 12 anos.

Alerta amarelo
Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, um rombo de até 3% do PIB é gerenciável. Acima disso, acende o sinal amarelo, e, de 4%, o alerta vermelho. “Quando estamos com o sinal amarelo ligado, é sinal de que o deficit externo ainda pode ser financiado com uma parcela substantiva de investimentos diretos, e não em empréstimos. Agora, se passar de 4%, é muito preocupante, porque pode se tornar insustentável. É bom que o buraco diminua”, afirmou.

Para o economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, na margem, o rombo das contas externas frente ao PIB já é de 4%. “Isso tem a ver com a balança comercial, cujo superavit é muito próximo de zero, e de uma balança de serviços deficitária. A economia do Brasil é pouco competitiva na produção de bens. Além disso, as importações continuam aumentando, e as exportações, caindo”, explicou. Segundo Camargo, o Brasil está se tornando um país muito caro para qualquer tipo de atividade econômica. “Mesmo com a economia crescendo pouco, o deficit está aumentando. Se a atividade econômica voltar a crescer, o buraco pode se tornar um problemão.”

Camargo destacou que a conta petróleo está por trás do rombo porque, de um lado, se tem redução de impostos sobre automóveis, o que aumentou a demanda pelo bem. De outro, o congelamento dos preços da gasolina reduziu o consumo do etanol e aumenta a necessidade de importação do derivado de petróleo, cuja defasagem em relação ao mercado internacional está em 30%. “Na medida em que isso ficar insustentável, o aumento da gasolina se tornará vital, e quando vier, pressionará a inflação. Esse é o dilema do governo”, disse.

Segundo Túlio Maciel, as projeções para agosto são de deficit em transações correntes de pelo menos US$ 5 bilhões. Esse, inclusive, é um dos motivos de o dólar estar se valorizando tanto ante o real. Estudos do Banco HSBC mostram que os países com rombo nas contas externas acima de 3% do PIB são os que registram as moeda com maiores desvalorizações no mundo. Neste grupo, além do real, estão a lira turca, a rúpia indiana e o rand sul-africano.

No entender de Carlos Eduardo de Freitas, o mercado até que demorou para ajustar as taxas de câmbio dessas nações, perante buracos tão expressivos nas transações correntes. Ele acredita que o fato de o BC ter anunciado um programa de leilões de câmbio até o fim do ano, no valor total de US$ 105 bilhões, indica que a autoridade monetária acredita que a alta do dólar está muito forte, podendo pressionar a inflação.


Capital especulativo
Para o professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, o Brasil está hoje colhendo o que plantou ao não estimular os investimentos produtivos. “Há necessidade de importar muito, e isso gera deficit nas transações correntes. Por enquanto, ainda é possível financiar o rombo, mas já estamos na dependência dos investimentos especulativos, que saem do país a qualquer momento. É uma zona perigosa essa dependência de capital volátil”, disse.


Endividamento das famílias
Com a inflação corroendo o poder de compras, o endividamento das famílias com o sistema financeiro aumentou em junho e bateu novo recorde. O valor total dos débitos passou a comprometer 44,8% da renda dos trabalhadores nos últimos 12 meses, ante 44,5% em maio. Foi a sexta alta seguida, segundo o Banco Central. Se forem descontados os financiamentos imobiliários, o endividamento ficou em 30,4% em junho. Segundo o BC, quando considerados somente os gastos com prestações, o comprometimento da renda mensal equivalia a 21,5%. Não à toa a confiança das famílias anda abalada.

Fonte: Correio Braziliense

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