25/08/2013 - 12h28
- Nacional
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Repórter Agência Brasil
Brasília – Dos 1.772 médicos formados no exterior inscritos para
participar do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos
(Revalida), 148 optaram por fazer as provas da primera fase em Brasília
(DF). A aprovação no exame é obrigatória para profissionais que se
formaram em outros países e querem trabalhar no Brasil. Na capital
federal, a prova acontece no campus da Universidade de Brasília (UnB),
onde alguns candidatos e vendedores ambulantes começaram a chegar por
volta das 7h. Os portões foram fechados às 8h e, até as 8h30, nenhum
inscrito havia chegado atrasado.
Aplicado desde 2011, este ano o Revalida atraiu maior atenção devido
à polêmica surgida com a iniciativa do governo federal de autorizar
profissionais de outros países a atuarem em regiões onde faltam médicos
na rede pública de saúde sem se submeterem à prova. Além disso, o número
de candidatos este ano (1.851) foi mais de duas vezes maior do que em
2012, quando 922 pessoas se inscreveram. E o número de cidades onde
ocorrem as provas quase dobrou, passando de seis capitais a dez:
Brasília (DF); Campo Grande (MS); Curitiba (PR); Fortaleza (CE); Manaus
(AM); Porto Alegre (RS); Rio Branco (AC); Rio de Janeiro (RJ), Salvador
(BA), além de São Paulo (SP), onde foi registrado o maior número de
candidatos inscritos (424).
Ansiosos diante da expectativa de ficar das 8h às 13h respondendo às
110 perguntas de múltipla escolha e das 15h às 18h fazendo as cinco
questões discursivas, vários candidatos ouvidos pela Agência Brasil comentaram que seria melhor se o exame fosse feito em dois dias.
“Eu
diria que o nível [de dificuldade] da prova é bom, nem fácil, nem tão
difícil. O complicado mesmo é que ela é cansativa, principalmente por
ser feita em um único dia”, comentou Daniel Santos Rodrigues Martins,
formado em Cuba há três anos. Ele se submeteu à prova em 2011 e, hoje,
acompanhava um grupo de amigos que fazem o exame.
Já atuando profissionalmente, Martins diz não ter enfrentado grandes
dificuldades para colocar em prática, no Brasil, o que aprendeu em
Cuba. “O ensino lá é muito competente. Hoje, com a globalização do
conhecimento, o ensino está bastante uniformizado no mundo inteiro. Em
Cuba ou aqui, as referências bibliográficas são basicamente as mesmas e,
no caso das especialidades, há parâmetros internacionais”, acrescentou
Martins, que disse não ver problemas em médicos estrangeiros contratados
para atuar em regiões carentes do país por meio do Programa Mais
Médicos serem liberados de revalidarem seus diplomas.
“Acho que seria justo e que não haveria problemas em submetê-los à
prova, mas é preciso lembrar que eles estão vindo em caráter
emergencial. Não que este seja o melhor caminho para resolver o problema
da saúde, mas, além de investimentos na infraestrutura e da criação de
uma carreira [de Estado] para incentivar os médicos a irem para áreas de
difícil acesso, eu acredito que são necessárias medidas emergenciais,
pois há pessoas doentes precisando de atenção e é difícil encontrar quem
queira ir para onde elas estão”, disse Martins.
Também formado em Cuba, Luiz Fernado Farias Bisco regressou ao Brasil há poucos meses e faz o Revalida pela primeira vez.
“Fui para Cuba atraído pelo reconhecimento mundial da qualidade do
sistema de saúde cubano e pela importância que, lá, se dá à atenção
primária. Fui indicado por um partido [político], fiz a prova na
embaixada cubana e me mudei”, contou Bispo, para quem a polêmica em
torno da vinda de médicos estrangeiros e a liberação desses de fazerem o
Revalida é fruto de uma “briga política”.
“Enquanto países europeus como Portugal pedem que os médicos cubanos
permaneçam trabalhando por lá, alguns, no Brasil, revidam a essa
iniciativa”, argumentou Bispo, que também disse não vêr incoerência
alguma entre ter que se submeter ao Revalida para poder exercer a
medicina no seu próprio país, enquanto profissionais estrangeiros
contratados pelo Programa Mais Médicos são dispensados do exame.
“Uma coisa é a revalidação dos diplomas. Outra é o programa federal.
Se o país precisa de médicos, se há lugares onde não há profissionais,
eu não vejo nenhuma injustiça nisso. Não creio que seja a solução, mas é
uma iniciativa correta, em vista do caráter emergencial. Se formos
falar de prova, aqui ninguém que se forma faz um exame para ver se de
fato está apto a trabalhar. Ao contrário do que acontece em Cuba, onde
todos têm que fazer um exame de ordem", disse Bispo.
Já
para Mayara Vaz Davico, que se formou na Argentina, terra natal de seu
pai, o mais correto seria que todos os profissionais formados no
exterior fizessem o Revalida, inclusive para contornar qualquer
polêmica. “Até porque, se depois dos três anos de contrato algum deles
quiser ficar no país, vai ter que fazer e revalidar o diploma”. Mayara
diz que tentou, mas não conseguiu se inscrever no Programa Mais Médicos.
“Sempre aparecia que a inscrição não tinha sido confirmada. E agora eu
fico sabendo que há cubanos que sequer precisaram se inscrever indo para
uma cidade a 10 quilômetros de onde eu vivo e onde queria trabalhar."
Edição: Andréa Quintiere
Fonte: Agência Brasil
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