04/08/2013
Depois da febre das lojas de R$ 1,99 no início do Plano Real, quando os importados eram muito baratos, surgiu um novo modelo de negócio conforme a moeda ganhava força: o tudo a R$ 1. Diante do slogan atrativo e da promessa de preços baixos, os consumidores lotavam o comércio, e era possível encontrar de tudo. Porém, a escalada do dólar nos últimos meses e a inflação persistentemente elevada fecharam parte desses empreendimentos, e os que permanecem abertos começam a mudar o letreiro. "R$ 1 não compra quase nada. O preço médio da loja, hoje, está em torno de R$ 15", explica Uanderson Ataíde de Serqueira, 24 anos.
Empregado no comércio desde os 14 anos, Uanderson trabalha atualmente em uma das muitas lojas que prometiam vender produtos a R$ 1. Em uma rápida pesquisa no estabelecimento, quase nada, além de alguns doces e modelos de cadarço, podia ser pago com uma moeda de real. "Antes era loja de
R$ 1,99. Depois baixamos para R$ 1. Agora, não dá mais para manter esse preço", afirma. Ele explica que apesar de ter pouca coisa pela cifra, os preços dessas lojas ainda são baratos. Alerta, porém, que a alta do dólar se tornou uma ameaça. A maioria dos produtos é importada, sobretudo da China. "De uma semana para outra, um fone de ouvido que custava R$ 10 subiu para R$ 14", calcula. "Nossos fornecedores estão cada vez mais caros", diz.
O dólar, em 2013, acumula alta de 12,5% e, segundo alguns especialistas, pode subir ainda mais. Nessa última semana, chegou a R$ 2,30 e começa a afetar o preço de alimentos a exemplo do pão francês, que apenas este ano subiu 6%. Os itens importados também registraram elevações expressivas.
Em outra loja parecida com a de Uanderson, os vendedores José Aparecido, 21 anos, e Oslam Carreiro, 24, se mostraram surpresos quando questionados sobre o que podia ser comprado com R$ 1. "Antigamente tinha muita coisa por R$ 1, mas agora subiu muito. Hoje dá para comprar uma caneta por R$ 0,69", observa Aparecido. "Quando saí de férias, há 10 dias, uma bolsa custava R$ 1,99. Quando voltei, ela havia subido para R$ 3,90", diz Carreiro. A dupla mostrou ainda ao Correio duas caixas de produtos que custavam R$ 1 ou menos, há alguns meses, mas foram remarcados, recentemente.
Miudezas
Para a estudante Petronilia Ataídes, 24 anos, R$ 1 compra coisas miúdas. Ela adquiriu, na última quinta-feira, um anel. "Dá somente para esses produtos menores, itens de primeira necessidade não. Antes, compravam-se sete pães de queijo por R$ 1, hoje, mal dá para um pão francês", observa. O dono de padaria Marcelo Lemos, 23, tenta rebater a queixa de Petronilia. "Tudo subiu muito nos últimos anos, e a farinha de trigo foi o que mais aumentou. O leite também encareceu muito. Não é culpa nossa, a gente sempre tenta um fornecedor diferente para, ao menos, manter nossa tabela", explica.
A aposentada Maria Pereira da Costa, 65 anos, diz que, há alguns anos, era possível comprar pão e leite com R$ 1. "Já teve tempo em que esse dinheiro valia muita coisa, mas parece que esse governo não está preocupado com alta de preço", lamenta. Ela diz que pesquisa bastante nos mercados e, ainda assim, acha difícil montar uma cesta de produtos mais em conta. "A coisa está feia. Gasto R$ 300 por mês, sem contar com a carne e com o gás", calcula.
Fonte: Correio Braziliense
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