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14/08/2013 15:10:00 - Atualizada às 14/08/2013 16:59:36
Mais de 2 mil alunos ficam sem aula após protesto no Parque Proletário
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, seis escolas e três creches da rede municipal de ensino não funcionaram. Jovem foi achado morto nesta terça à noite
PALOMA SAVEDRA E MARCELLO VICTOR
Rio - No dia seguinte ao protesto que terminou com três ônibus queimados e uma viatura da PM depredada, no Parque Proletário, no Complexo da Penha, na Zona Norte, mais de 2.302 alunos ficaram sem aulas nesta quarta-feira. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, seis escolas e três creches da rede municipal de ensino não funcionaram. Ainda segundo o órgão, conteúdo das aulas será reposto.
Nesta manhã, coletivos não circulam em alguns trechos da região. Diversas lojas que ficam próximas ao local onde os ônibus foram queimados não abriram as portas. Algumas casas tiveram o fornecimento de energia elétrica interrompido. Segundo a Light, a rede elétrica foi danificada por conta dos atos de vandalismo na comunidade.
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| Moradores da Penha incendeiam três ônibus em protesto após morte de adolescente | Foto: Severino Silva / Agência O Dia |
A notícia da morte e a acusação da família e de moradores da participação de policiais no suposto crime provocou protestos. A Polícia Civil informou, na tarde desta quarta, que o resultado da necrópsia no corpo de Laércio não apresentou lesões externas, nem sinais de esganamento e espancamento. Serão realizados exames periciais complementares para saber a causa da morte do morador do Parque Proletário.
Segundo o presidente da Associação de Moradores do Parque Proletário da Penha, Celso de Sousa Campos, conhecido como Binha, Laércio sumiu às 20h de segunda-feira, depois de ter avistado PMs e corrido “com medo”.
“Laércio e amigos viram policiais e, com medo de serem abordados, correram. Ele foi mais para cima da favela, onde foi achado morto. Mas ele não tinha envolvimento com o tráfico. Era um bom garoto e trabalhava na barbearia do avô”, afirmou.
Família 'muito abalada'
Binha disse que o medo que moradores sentem se deve à forma das abordagens: “É o modo de abordar que leva a esse medo. Depende do policial e do plantão. Uns são mais agressivos, outro não. Hoje aconteceu com ele (Laércio), amanhã pode ser com meus filhos. Essa história tem que ser bem apurada, está muito estranho”. De acordo com Celso, a mãe do rapaz está “muito abalada e mal consegue falar". “Ela só pede justiça, e enquanto não fala, eu estou representando a família” contou.
O novo coordenador das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), coronel Frederico Caldas, negou abordagem feita por PMs ao adolescente. "Não ha relatos ou informações oficiais de qualquer tipo de abordagem a esse jovem", disse Caldas
Tiroteio de duas horas
Durante a madrugada, um tiroteio que durou cerca de duas horas assustou os moradores da comunidade. A polícia nega participação em qualquer confronto e suspeita de desavença entre bandidos. Um fuzil foi encontrado.
De acordo com a família de Laércio Hilário da Luz Neto, o jovem estava desaparecido desde a noite de segunda-feira, após ser abordado na porta de casa por PMs da UPP do Parque Proletário. O corpo foi encontrado na noite desta terça-feira, na laje da casa de uma vizinha, a cerca de 300 metros de onde a vítima morava. Segundo a família, houve violência.
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| Técnicos da Light fizeram reparos nesta quarta na fiação que foi queimada | Foto: Severino Silva / Agência O Dia |
"Não tem tiro, mas marcas de estrangulamento e pancadas. Ele não tinha inimigos aqui", afirmou o rodoviário Ladielson Hilário da Luz, pai de Laércio. Morador da Zona Oeste, ele disse que o filho não teve envolvimento com o tráfico de drogas e que o rapaz foi abordado e agredido por policiais da UPP na porta de casa, na presença de colegas, na noite anterior. Ele disse que o jovem não estudava e que iria se alistar no Exército este ano.
Moradores fazem protesto
A notícia do encontro do corpo do adolescente e da acusação da participação de PMs acirrou os ânimos na comunidade. Uma manifestação foi realizada na Estrada José Rucas, uma das principais vias de acesso as comunidades do Complexo da Penha.
Na altura da Praça São Marcos, uma viatura da PM baseada no local foi apedrejada. Foi pedido reforço e os policiais chegaram a usar balas de borracha para dispersar a multidão.
Em represália, populares incendiaram dois ônibus da linha 623, na Rua Aimoré, na altura da Rua Maragogi. Um outro da linha 622 foi queimado na Estrada José Rucas. Os três coletivos fazem a linha Penha-Saens Pena.
Com medo de novos ataques, a empresa Nossa Senhora de Lourdes, responsável pelas linhas, recolheu todos os seus veículos da região. Moradores que voltavam de seus compromissos tiveram que ir para casa a pé
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| Policiais reforçam segurança na comunidade | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia |
O fornecimento de energia elétrica também ficou prejudicado na região. Trechos da fiação foram atingidos pelas chamas do fogo nos ônibus. Técnicos da Light passaram a madrugada tentando normalizar a situação. Segundo Frederico Caldas, o policiamento está reforçado na região da Penha com PMs de seis UPPs e do 16º BPM (Olaria).
Morte suspeita intriga a polícia
Policiais da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil realizaram uma perícia na laje onde o menor Laércio foi encontrado na Vila Proletária. Eles chegaram por volta das 2h. Os agentes foram ao local com o apoio de policiais militares e tiveram que seguir a pé por um trecho, devido ao difícil acesso. O resultado do laudo é aguardado para indicar a causa da morte do adolescente.
De acordo com o coronel Frederico Caldas é visível que não houve sinais externos de violência como marcas de tiros. Segundo ele, as circunstâncias do encontro do cadáver intrigaram PMs e policiais civis.
"É um local alto. Difícil de entender como ele chegou lá. Segundo foi investigado ele teria que ter passado por dentro de uma casa", descreveu o coordenador das UPPs. Ele completou informando que não foram verificadas pegadas em muros ou sinais de luta ou marcas de sangue próximos ao corpo. O oficial da PM não soube dizer se Laércio tinha passagem pela polícia, mas a família informou que o jovem estava trabalhando em um salão de beleza e era tranquilo. Durante a madrugada o pai do adolescente prestou depoimento na DH, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
Fonte: O Dia Online





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