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terça-feira, 20 de agosto de 2013

BC E TESOURO FRACASSAM. DÓLAR AVANÇA A R$ 2,42

DÓLAR ATROPELA TESOURO, BC E ELEVA PREÇO DE VOO

20/08/2013

Levantamento do Correio mostra que, em 16 dias, a valorização da moeda americana frente ao real encareceu passagens para o exterior em até 80%. Uma viagem de ida e volta entre Brasília e Londres, no Natal, passou de R$ 2.160,60 para R$ 3.903,44. A escalada do dólar desafia o governo brasileiro, apesar de o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central dizerem que estão prontos para agir. Ontem, quando a cotação bateu em R$ 2,42, os juros dos títulos públicos dispararam. O BC e o Tesouro Nacional entraram em ação: mas, mesmo com a venda de US$ 4 bilhões, a divisa dos EUA fechou a R$ 2,416 — acima da barreira psicológica dos R$ 2,40. Analistas preveem que o impacto da alta do dólar na inflação levará a um aumento maior da taxa básica de juros, semana que vem. Dólar atropela Tesouro, BC e eleva preço de voos true O governo sentiu ontem o baque da desconfiança que está minando a economia do país. Com os investidores à beira de um ataque de nervos, o dólar rompeu de vez o teto psicológico de R$ 2,40 — bateu em R$ 2,42 — e as taxas de juros dos títulos públicos dispararam. Para tentar conter o estrago, o Banco Central e o Tesouro Nacional foram obrigados a fazer operações coordenadas, mas fracassaram. Mesmo com a venda de US$ 4 bilhões pelo BC, por meio de três leilões (hoje, haverá uma oferta de linha de crédito), a moeda norte-americana cravou o sexto dia seguido de valorização, cotada a R$ 2,416, com elevação de 0,83%. No ano, a alta chega a 18,5%. A forte arrancada do dólar decorreu da falta de clareza do governo em relação à política econômica — o Ministério da Fazenda e o BC andam se atropelando — e das perspectivas ruins para o país. Agora, os investidores se perguntam qual será o impacto da moeda norte-americana sobre a inflação. No entender deles, com o custo de vida retomando o fôlego, o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana, poderá pesar a mão na taxa básica de juros (Selic) e, em vez do aumento consensual de 0,5 ponto percentual, o salto poderá ser de 0,75 ponto, para 9,25% ao ano. Diante desse quadro, os juros nos mercados futuros tiveram forte alta. A taxa dos contratos com vencimento em janeiro de 2015 atingiu 10,66% ao ano, encostando nos 10,75% registrados pela Selic em janeiro de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff tomou posse. Esse avanço fez com que os investidores puxassem os custos dos títulos públicos para cima, a ponto de os negócios serem interrompidos por falta de parâmetros. O Tesouro teve que fazer leilões extraordinários de recompra de papéis com nove vencimentos — só teve sucesso em três —, como forma de minimizar os prejuízos dos investidores. Esses leilões só ocorrem em momentos de muita incerteza, quando a desconfiança atinge níveis insuportáveis. O Tesouro já avisou que fará operações semelhantes hoje. Combustíveis A tensão deve aumentar. Amanhã, o Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, divulgará a ata de sua última reunião. A expectativa é de que o documento explicite sinais de como será o processo de redução dos estímulos que a instituição dá mensalmente à maior economia do mundo. A virada na política monetária norte-americana afeta as moedas dos países emergentes, pois o fluxo de recursos disponíveis tenderá a voltar para as economia avançadas, que dão sinais de reação. Além dos EUA indicarem um vigor maior, a Zona do Euro saiu oficialmente da recessão e o Japão tirou os pés do atoleiro no qual estava metido havia duas décadas. A alta do dólar é só um ingrediente a mais no emaranhado de problemas com que o governo está tendo de lidar a 14 meses das eleições em que Dilma tentará se reeleger. Além de três anos de crescimento frustrante e da inflação insistentemente próxima ao teto da meta, de 6,5%, há o estrago no caixa da Petrobras. Com a alta da moeda norte-americana, o endividamento da estatal cresceu de forma preocupante, e os prejuízos com a venda de combustíveis a preços mais baixos do que os pagos no exterior se acentuaram, tirando a capacidade de investimentos em projetos estratégicos para o país, especialmente os dos campos do pré-sal, nos quais terá de garantir pelo menos 30% dos recursos para exploração. Credibilidade O governo resiste, porém, a conceder os reajustes para a gasolina e o diesel pedidos pela empresa. Teme que a inflação, já pressionada pelo dólar, acabe saindo do controle. A equipe econômica admite que, não fossem as intervenções nas tarifas públicas, como as de energia elétrica e as passagens de ônibus, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já estaria acima de 8% em 12 meses, e não nos 6,3% apontados pelo IBGE. Não bastasse tudo isso, há ainda a questão fiscal, com seus truques contábeis, que só compromete a credibilidade do país. "Do lado fiscal, confesso que já joguei a toalha. É pouco provável que haja uma evolução. Guido Mantega (ministro da Fazenda) declarou que a política fiscal é neutra, quando o BC insiste que é expansionista", observou Alexandre Póvoa, economista-chefe da Canepa Asset. "Eles não falam a mesma língua", criticou. A falta de confiança nas contas públicas tem contribuído para que a desvalorização do real frente ao dólar fique acima das demais moedas de países emergentes. No mundo, segundo um estudo da DX Investimentos, de 35 divisas, a brasileira só não perdeu mais valor que o rand da África do Sul. Isso, apesar de o BC brasileiro ter feito, no ano, quase 60 intervenções (operações swaps) no câmbio, despejando US$ 53,8 bilhões. Os especialistas assinalam que, em meio a tantas incertezas, não são apenas os títulos públicos que sofrem. A BlackRock, maior gestora de recursos do planeta, reduziu a sua participação em três empresas brasileiras: Cia. Hering, Usiminas e CCR. Por meio dessas operações, os investidores retiram dinheiro do Brasil e ajudam a elevar as cotações do dólar. Para o Tesouro Nacional, porém, é preciso ter calma. Segundo um técnico do órgão, o que se viu ontem, com as operações de recompra de papéis do governo no valor de R$ 1,6 bilhão, foi um movimento atípico. Não é bem assim. Em junho, as intervenções foram quase uma constante. Independentemente disso, os investidores perderam, no primeiro semestre do ano, quase R$ 120 bilhões. As apostas em relação à alta dos juros se intensificam: 40% dos investidores já acreditam que a Selic poderá fechar o ano em 10%.

Fonte: Correio Braziliense

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