05/08/2013 - 21h41
Cidadania
Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O secretário-geral da organização não governamental (ONG) Anistia Internacional, o indiano Salil Shetty, participou hoje (5) de um debate no Complexo da Maré, na zona norte, sobre abuso policial e pacificação da favela, que está na iminência de receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ele ouviu lideranças locais, que relataram abusos recorrentes nas favelas do Rio.
O diretor da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Waldir Francisco da Costa, disse que o trabalho de resistência e discussão com a comunidade começou em 1991, quando, segundo ele, começou uma série de execuções de presidentes de associações de moradores de favelas, chegando a 25 líderes comunitários mortos em três anos na cidade. Costa relatou que, em seguida, começaram as execuções de jovens nas incursões policiais nas comunidades. “Nós queremos aprimoramento, treinamento, educação, que é o que falta para nossas organizações policiais. Eles não são educados, hoje eles são treinados para matar”, disse.
O fotógrafo Ubirajara Carvalho, morador da Nova Holanda, relatou a invasão de domicílio sofrida por ele em maio, quando quebraram sua máquina fotográfica e jogaram as fotografias no vaso sanitário. Para ele, os moradores de favelas acabam reféns do medo. “A principal dificuldade é o medo, porque você não saber a reação do traficante se denunciar e a polícia vir. O meu caso foi a primeira vez que a polícia entrou aqui para fazer uma perícia, e depois no caso da morte dos dez jovens”.
O ativista Aloísio Prates, morador da Vila Pinheiro, disse que a favela é um símbolo da luta e resistência do trabalhador e seus moradores não devem ser oprimidos. “O apartheid está aqui, com o apelido de 'área de risco'. Vem uma doutrina policial de defesa do dominador, isso já está na escola de polícia, eles são bem formados direcionados para isso: oprimir os indígenas, oprimir o pessoal que mora na favela, na baixada, na ribanceira da serra de Petrópolis”, declarou.
A coordenadora de direitos humanos da ONG Observatório de Favelas, Raquel Wiladino, explicou que a organização trabalha para uma reforma estrutural nas políticas de segurança pública, discutindo os problemas com as comunidades e levando as propostas para o Poder Público. “O Observatório de Favelas entende que é fundamental que o governo do estado, que o secretário de Segurança, assumam um compromisso com uma reforma mais estrutural no campo das ações. A gente quer uma política de segurança pública pautada pelos direitos humanos, que tem como princípio fundamental a valorização da vida”, disse.
Na sua fala para os líderes comunitários e moradores da Maré, Salil Shetty destacou que os direitos humanos são os mesmos, independentemente de onde se mora. “Quer você more nos Estados Unidos, quer você more no Brasil, você tem os mesmos direitos. Da mesma maneira, os mesmos princípios se aplicam aqui. Você não pode ter direitos diferentes se mora no Leblon ou em Ipanema ou se mora aqui, na Maré. Eu não imaginaria um policial chutar a porta de um morador rico do Leblon sem ter a permissão adequada, o mandado para isso”.
O diretor da Anistia Internacional declarou ainda que a violência policial também ocorre em outros países, mas o que impressiona aqui, no Brasil, são os números. “Duas mil mortes por ano, de acordo com dados das Nações Unidas, feitas por forçar policiais, é um número espantoso. E isso é uma exceção, porque o Brasil, no cenário internacional, defende os direitos humanos. E um país que defenda os direitos humanos ter isso, realmente é espantoso”.
Ele lembrou que a presença da Anistia Internacional será útil para levar o debate sobre as violações de direitos humanos nas favelas para as autoridades e a mídia, que, segundo ele “é muito seletiva como que vai noticiar”, e pode dar mais abertura para uma organização internacional. “Depois do que aconteceu na Maré e na Rocinha, é uma oportunidade muito importante, antes das Olimpíadas, para as autoridades fazerem ações concretas a fim de mudar a realidade das pessoas que vivem nas favelas. As pessoas das favelas precisam sentir que são cidadãos com igualdade neste país”, disse.
Edição: Aécio Amado
Fonte: Agência Brasil
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