22 de fevereiro de 2014
Alexandre Paz Garcia
Gostaria de dizer algumas coisas sobre o que aconteceu no dia 31/03/1964
e nos anos que se seguiram. Porque concluo, diante do que ouço de
pessoas em quem confio intelectualmente, que há algo muito errado na
forma como a história é contada. Nada tão absurdo, considerando as
balelas que ouvimos sobre o "descobrimento" do Brasil ou a forma como as
pessoas fazem vistas grossas para as mortes e as torturas perpetradas
pela Igreja Católica durante séculos. Mas, ainda assim, simplesmente não
entendo como é possível que esse assunto seja tão parcial e
levianamente abordado pelos que viveram aqueles tempos e, o que é pior,
pelos que não viveram.
Nenhuma pessoa dotada de mediano senso crítico vai negar que houve
excessos por parte do Governo Militar. Nesta seara, os fatos falam por
si e por mais que se tente vislumbrar certos aspectos sob um prisma
eufemístico, tortura e morte são realidades que emergem de maneira
inegável.
Ocorre que é preciso contextualizar as coisas. Porque analisar fatos
extirpados do substrato histórico-cultural em meio ao qual eles foram
forjados é um equívoco dialético (para os ignorantes) e uma
desonestidade intelectual (para os que conhecem os ditames do raciocínio
lógico). E o que se faz com relação aos Governos Militares do Brasil é
justamente ignorar o contexto histórico e analisar seus atos conforme o
contexto que melhor serve ao propósito de denegri-los.
Poucos lembram da Guerra Fria, por exemplo. De como o mundo era
polarizado e de quão real era a possibilidade de uma investida comunista
em território nacional. Basta lembrar de Jango e Janio; da visita à
China; da condecoração de Guevara, este, um assassino cuja empatia
pessoal abafa sua natureza implacável diante dos inimigos.
Nada contra o Comunismo, diga-se de passagem, como filosofia. Mas creio
que seja desnecessário tecer maiores comentários sobre o grau de
autoritarismo e repressão vivido por aqueles que vivem sob este sistema.
Porque algumas pessoas adoram Cuba, idolatram Guevara e celebram
Chavez, até. Mas esquecem do rastro de sangue deixado por todos eles;
esquecem as mazelas que afligem a todos os que ousam insurgir-se contra
esse sistema tão "justo e igualitário". Tão belo e perfeito que milhares
de retirantes aventuram-se todos os anos em balsas em meio a
tempestades e tubarões na tentativa de conseguirem uma vida melhor.
A grande verdade é que o golpe ou revolução de 1964, chame como queira,
talvez tenha livrado seus pais, avós, tios e até você mesmo e sua
família de viver essa realidade. E digo talvez, porque jamais saberemos
se isso, de fato, iria acontecer. Porém, na dúvida, respeito a todos os
que não esperaram sentados para ver o Brasil virar uma Cuba.
Respeito, da mesma forma, quem pegou em armas para lutar contra o
Governo Militar. Tendo a ver nobreza nos que renunciam ao conforto
pessoal em nome de um ideal. Respeito, honestamente.
Mas não respeito a forma como esses "guerreiros" tratam o conflito. E
respeito menos ainda quem os trata como heróis e os militares como
vilões. É uma simplificação que as pessoas costumam fazer. Fruto da
forma dual como somos educados a raciocinar desde pequenos. Ainda assim,
equivocada e preconceituosa.
Numa guerra não há heróis. Menos ainda quando ela é travada entre
irmãos. E uma coisa que se aprende na caserna é respeitar o inimigo.
Respeitar o inimigo não é deixar, por vezes, de puxar o gatilho.
Respeitar o inimigo é separar o guerreiro do homem. É tratar com nobreza
e fidalguia os que tentam te matar, tão logo a luta esteja acabada. É
saber que as ações tomadas em um contexto de guerra não obedecem à ética
do dia-a-dia. Elas obedecem a uma lógica excepcional; do estado de
necessidade, da missão acima do indivíduo, do evitar o mal maior.
Os grandes chefes militares não permanecem inimigos a vida inteira.
Mesmo os que se enfrentam em sangrentas batalhas. E normalmente se
encontram após o conflito, trocando suas espadas como sinal de respeito.
São vários os exemplos nesse sentido ao longo da história. Aconteceu na
Guerra de Secessão, na Segunda Guerra Mundial, no Vietnã, para pegar
exemplos mais conhecidos. A verdade é que existe entre os grandes
Generais uma relação de admiração.
A esquerda brasileira, por outro lado, adora tratar os seus
guerrilheiros como heróis. Guerreiros que pegaram em armas contra a
opressão; que sequestraram, explodiram e mataram em nome do seu ideal.
E aí eu pergunto: os crimes deles são menos importantes que os
praticados pelos militares? O sangue dos soldados que tombaram é menos
vermelho do que o dos guerrilheiros? Ações equivocadas de um lado
desnaturam o caráter nebuloso das ações praticadas pelo outro? Penso que
não. E vou além.
A lei de Anistia é um perfeito exemplo da nobreza que me referi
anteriormente. Porque o lado vencedor (sim, quem fica 20 anos no poder e
sai porque quer, definitivamente é o lado vencedor) concedeu perdão
amplo e irrestrito a todos os que participaram da luta armada. De lado a
lado. Sem restrições. Como deve ser entre cavalheiros. E por pressão de
Figueiredo, ressalto, desde já. Porque havia correntes pressionando por
uma anistia mitigada.
Esse respeito, entretanto, só existiu de um lado. Porque a esquerda,
amargurada pela derrota e pela pequenez moral de seus líderes nada mais
fez nos anos que se seguiram, do que pisar na memória de suas Forças
Armadas. E assim seguem fazendo. Jogando na lama a honra dos que
tombaram por este país nos campos de batalha. E contaminando a maneira
de pensar daqueles que cresceram ouvindo as tolices ditas pelos nossos
comunistas. Comunistas que amam Cuba e Fidel, mas que moram nas suas
coberturas e dirigem seus carrões. Bem diferente dos nossos militares,
diga-se de passagem.
Graças a eles, nossa juventude sente repulsa pela autoridade. Acha
bonito jogar pedras na Polícia e acha que qualquer ato de disciplina
encerra um viés repressivo e antilibertário. É uma total inversão de
valores. O que explica, de qualquer forma, a maneira como tratamos os
professores e os idosos no Brasil.
Então, neste 31 de março, celebrarei aqueles que se levantaram contra o
mal iminente. Celebrarei os que serviram à Pátria com honra e abnegação.
Celebrarei os que honraram suas estrelas e divisas e não deixaram nosso
país cair nas mãos da escória moral que, anos depois, o povo brasileiro
resolveu por bem colocar no Poder.
Bem feito. Cada povo tem os políticos que merece.
Se você não gosta das Forças Armadas porque elas torturaram e mataram,
então, seja, pelo menos, coerente. E passe a nutrir o mesmo dissabor
pela corja que explodiu sequestrou e justiçou, do outro lado. Mas tenha
certeza que, se um dia for necessário sacrificar a vida para defender
nosso território e nossas instituições, você só verá um desses lados ter
honradez para fazê-lo.
Do Facebook de Alexandre Paz Garcia
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