18/12/2013 - 6h00
- Cidadania
Pedro Peduzzi*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O combate à violência praticada contra a mulher tem um
símbolo no Brasil: Maria da Penha. Farmacêutica bioquímica, Maria da
Penha chegou a ficar internada por quatro meses devido a um tiro
disparado pelo ex-marido, que a deixou paraplégica. O caso ganhou
repercussão e, apesar da morosidade da Justiça, resultou na principal
ferramenta jurídica de defesa das mulheres vítimas de violência. Ter seu
nome vinculado à lei não a faz esmorecer. Em entrevista ao programa 3 a 1, da TV Brasil, ela admitiu que a lei sozinha, só no papel, não funciona. O programa vai ao ar nesta quarta-feira (18), às 20h.
“Falta criar políticas públicas, [e investimentos em] delegacias da
mulher, centros de referências da mulher, casa-abrigo e juizado”, disse
Maria da Penha. “Mas não adianta ter a política pública se quem está
trabalhando não for sensível e não for capacitado [para atender à
mulher]”, acrescentou. Foram necessários quase 20 anos para que o
ex-marido fosse condenado pelo crime que cometeu. Ele ficou preso dez
anos e hoje está livre.
Penha considera a divulgação de casos iguais ao dela, ocorrido em
1983, muito importante. Em outra ocasião, lembrou a farmacêutica, ele
tentou eletrocutá-la, danificando o chuveiro elétrico. “[Por isso] vou
escrever um livro e contar minha história”, anunciou durante o programa.
“O livro vai mostrar que o Poder Judiciário não faz justiça e que as
políticas públicas que devem ser criadas para atender à lei não existem.
[E mostrar que] gestor público não se sensibiliza [em casos que
envolvem violência contra mulheres]”.
A lentidão do Judiciário foi criticada por ela durante a entrevista.
“Eu vi a demora do Poder Judiciário, deixando o processo dentro das
gavetas e atendendo recursos procrastinadores [impetrados com o objetivo
de atrasar o processo]”. Penha lembrou que no primeiro julgamento o
marido foi condenado a uma pena de oito anos, mas acabou livre por causa
de recursos.
“Naquele momento, eu fiquei muito angustiada. Já era conduta do
Judiciário garantir a impunidade dos agressores na época”, disse ela ao
lembrar os efeitos que a situação causava em sua família. “Precisamos
criar nossos filhos em um ambiente saudável, uma ambiente sem
violência”, acrescentou. “E não adianta ter a política pública se quem
está trabalhando não for sensível e não for capacitado. Mudar a cultura é
difícil. Tem de haver um olhar público para quem tem a responsabilidade
de aplicar e dar agilidade aos processos”.
*Colaborou: Gilberto Costa, da TV Brasil
Edição: Graça Adjuto
Fonte: Agência Brasil
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