- 09/03/2014 12h08
- San Cristóbal, Venezuela
Leandra Felipe - Correspondente da Agência Brasil - EBC
Edição: Beto Coura
O governo venezuelano promove
hoje (9) reuniões com setores políticos e da sociedade em Caracas e em
San Cristóbal, capital de Táchira, reduto da oposição e cidade onde
foram registrados os mais violentos protestos contra o governo nas
últimas três semanas. Haverá reuniões sobre cultura, esportes e meios de
comunicação. Está prevista muita discussão, porque os venezuelanos
condenam a censura e o desrespeito à liberdade de expressão.
No sábado, (8) uma Conferência de Paz para Mulheres foi aberta pelo
presidente Nicolás Maduro em Caracas. Em San Cristóbal, um encontro
regional debateu alimentação e agricultura. Enquanto as comissões se
reuniram, houve protestos e marchas organizadas pela oposição.
Empresários, agricultores, transportadores e ministros participaram
da conferência regional, nas comissões de agricultura e alimentação. Na
mesma cidade, estudantes, representantes da sociedade civil e políticos
de oposição marcharam batendo panelas vazias com cartazes contra a
violência e a falta de comida.
Durante a abertura do evento em Caracas, Maduro fez um chamado à
oposição para participar das conferências. “Tomara que a oposição venha e
diga o que temos que fazer olho no olho“, afirmou.
A Mesa da Unidade Democrática não comparece às conferências
promovidas pelo governo, alegando que não foi estabelecida uma agenda de
negociação, e que o governo não atende às reivindicações, como
liberação de todos os estudantes detidos em três semanas de protestos.
Há também reivindicação de liberdade para o líder opositor Leopoldo
López do partido Vontade Popular, preso desde o dia 18 de fevereiro, sob
acusação de coordenar atos violentos durante as manifestações.
A oposição denunciou que uma manifestação de mulheres que marchava em
direção ao Ministério de Alimentação, para entregar um documento ao
ministério, foi impedida de chegar ao local.
O governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, disse que o
governo comete um erro ao acreditar que o mal-estar social acabará com a
repressão. "Vimos uma demonstração clara da debilidade do governo.
Nossa luta não é contra um povo chavista, mas sim contra um grupinho de
culpados pela escassez. Hoje vimos como o governo tem medo das
manifestações contra a falta de produtos", disse Capriles.
Táchira, estado onde começou a onda de protestos é o mais afetado
pela escassez de produtos e pela violência. É também onde a oposição é
mais forte.
Enquanto aconteciam os protestos apoiados pela prefeitura de San
Cristóbal, representantes do comércio, da indústria e da agropecuária,
além de ministros de governo, participaram das comissões de agricultura e
alimentação.
As principais queixas do setor produtivo são sobre a insegurança nas
estradas para transporte de mercadorias e dificuldades de conseguir
dinheiro para comprar mercadorias.
O reflexo dos problemas aparece nas ruas. A população reclama da
falta de produtos, como leite, farinha de trigo e a farinha de milho
para fabricação de arepas (espécie de pão, muito popular no país).
A Agência Brasil acompanhou parte da conferência e
também da manifestação. Na comissão, a gerente de uma rede internacional
de supermercados da área atacadista pediu maior segurança nas estradas,
porque as cargas são saqueadas.
"Nesse sábado estamos fechados, porque não temos produtos suficientes
para venda. Carregamentos não estão chegando pela falta de segurança e
também dificuldades para comprar os produtos pela falta de dinheiro",
afirmou.
Nas ruas, a professora Ingrid Ramires contou a Agência Brasil
que protestava porque não consegue comprar comida. "Quem aguenta ficar
sete horas em uma fila pra comprar dois quilos de arroz? Ficar na fila,
sem nem saber se vai conseguir comprar?”, perguntou.
Na conferência, as reclamações foram ouvidas por integrantes do
governo Maduro, como o ministro de Interior, Justiça e Paz da Venezuela,
Miguel Rodríguez Torres. “Continuamos em San Cristóbal, escutando
ideias para solucionar os problemas de abastecimento da região, uma das
maiores produtoras do país”. O ministro anunciou a liberação de 10
milhões de bolivares (1,5 milhão de dólares) para atender aos
transportadores afetados por saques de mercadorias.
Fonte: Agência Brasil
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