- 09/03/2014 10h16
- Rio de Janeiro
Isabela Vieira- Repórter da Agência Brasil
Edição: Nádia Franco
A área do Jardim Botânico do Rio
de Janeiro foi ampliada e o parque passou a ter, na semana passada, 140
hectares. Com 200 anos de existência, o parque foi oficialmente
delimitado no ano passado e será registrado em cartório nos próximos
meses. No último dia 6, começou o processo de cessão de áreas da União
ao Jardim Botânico e foi disparado o cronômetro para retirada de 520
famílias que vivem na área.
A presidenta do Jardim Botânico, Samyra Crespo, que está no cargo
desde o ano passado, assegurou que as desapropriações não serão feitas
“do dia para a noite”. “Queremos tratar a questão com serenidade. Dois
órgãos do governo tomaram a decisão (de ceder as terras ao Jardim
Botânico), e estamos em um momento burocrático de acerto da
delimitação”, disse.
De acordo com Samyra, os limites foram estabelecidos com base no
tombamento do parque pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) e ainda são insuficientes para atender aos cerca de 1
milhão de visitantes anuais — o que coloca o Jardim Botânico ao lado de
cartões-postais como o Pão de Açúcar e o Corcovado. Samyra acredita
que, com isso, haverá recuperação das áreas que serão desocupadas no
Grotão, com mudas nativas, e em torno de dois rios.
A presidenta do Jardim Botânico esclarece que somente a Secretaria do
Patrimônio da União (SPU), do Ministério do Planejamento, tem as
informações sobre os novos limites e sobre as famílias que terão de
deixar suas casas. O órgão, que não respondeu à Agência Brasil, deve publicar uma portaria com os novos limites nos próximos meses, cumprindo decisão judicial.
De acordo com Samyra, a decisão de reassentar moradores foi tomada
pelo governo e não tem volta. “A SPU fez um cadastro para ver em qual
programa social as famílias se encaixam, por faixa de renda”. Moradores
com renda acima de R$ 5,2 mil, consideradas de classe média, no entanto,
não foram atendidos e terão de pedir alguma indenização na Justiça.
Existe ainda a possibilidade de reassentar famílias pobres em áreas
próximas, no próprio bairro, o Horto. Para evitar a especulação
imobiliária, o Ministério do Meio Ambiente não divulga quais são os
terrenos em análise, mas Samyra cita o do Toalheiro Brasil, na Rua
Marquês de Sabará. A prefeitura confirma que o trâmite está em análise,
mas não dá detalhes.
Os moradores permanecem atentos, aguardando a publicação de portaria
da SPU transferindo os terrenos para o Jardim Botânico. A presidente da
Associação de Moradores e Amigos do Horto, Emília de Souza, lamenta.
Para ela, não é possível separar o homem do ambiente.
“Essa decisão não reconhece a história e a memória e as origens de
famílias que estão aqui há mais de 100 anos”, afirma. Emília lembra que
os primeiros moradores foram trabalhadores da obra do parque, que
receberam terrenos de administrações passadas. Sem o registro dos
imóveis, no entanto, a associação se organiza para voltar a questionar
na Justiça a desocupação.
Fonte: Agência Brasil
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