29/01/2013
CSN NEGOCIA APORTE BILIONÁRIO DO BNDES PARA COMPRAR A CSA
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
poderá aportar até R$ 4 bilhões para apoiar a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) em seu plano de aquisição dos ativos de aço do grupo
alemão ThyssenKrupp no Brasil, a CSA, e nos EUA, a Calvert Steel, do
Alabama. O Valor apurou com fontes próximas às negociações que uma
proposta da CSN foi acatada pela direção do BNDES e é bem-vista no
governo. A ideia é fortalecer um grupo siderúrgico brasileiro e
nacionalizar o controle da CSA, hoje dos alemães. A antiga CST e a
Acesita já estão em poder da anglo-indiana ArcelorMittal, e a Usiminas,
no ano passado, passou às mãos de argentinos e japoneses. Em ambos os
casos, a CSN tentou comprar os ativos e foi derrotada.
A operação de venda da CSA e da laminadora americana, conduzida
por dois grandes bancos de investimentos, está prevista para ser
fechada neste trimestre. O aporte do BNDES é a forma de viabilizar o
projeto de aquisição pelo grupo do empresário Benjamin Steinbruch. A
CSN, segundo informações do mercado, está disposta a desembolsar US$
3,8 bilhões pela ThyssenKrupp Steel Americas, holding que controla os
dois negócios siderúrgicos.
Para apoiar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em seu plano de
aquisição dos ativos de aço do grupo alemão ThyssenKrupp no Brasil e no
Estados Unidos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), por meio de seu braço de participações BNDESPar, deverá
aportar até R$ 4 bilhões no negócio, conforme apurou o Valor com fontes
próximas das negociações entre o banco e a empresa. A operação de
venda, conduzida por dois grandes bancos de investimentos, está
prevista para ser fechada neste trimestre.
O aporte do banco é a forma que se encontrou para viabilizar o
projeto de aquisição da companhia do empresário Benjamin Steinbruch. A
CSN, segundo informações não confirmadas pela empresa, está disposta a
desembolsar US$ 3,8 bilhões (quase R$ 8 bilhões) pela ThyssenKrupp
Steel Americas (TKSA), holding que controla os dois negócios
siderúrgicos. A BNDESPar entraria como sua sócia na compra da TKSA.
O apoio com capital do banco é fundamental para evitar que o negócio
comprometa o perfil financeiro da CSN. Conforme cálculos de analistas,
a relação entre dívida líquida e resultado operacional (Ebitda - lucro
antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançaria índice
acima de cinco vezes se desembolsar 100% do valor da compra. No fim de
setembro, a relação era pouco superior a três vezes.
Aquisição, seguida de fusão, daria à CSN mais de 60% de uma nova companhia; o BNDES teria em torno de 30%
No fim de setembro, a CSN tinha um robusto caixa de R$ 15 bilhões,
porém, com um endividamento bruto de R$ 30 bilhões. A dívida líquida,
avaliam, daria um grande salto, o que deixa os investidores em ações da
siderúrgica de Steinbruch incomodados.
Segundo as fontes, a direção do BNDES acatou a proposta de apoio à
CSN, que foi bem-vista no governo. O argumento é que permitirá
nacionalizar um ativo siderúrgico do país hoje sob controle de capital
estrangeiro. É o contrário do que ocorreu com a antiga CST e a Acesita,
em 1998, que acabaram em poder de um grupo francês que depois se foi
vendido para a Mittal . Outro exemplo é a Usiminas: a entrada dos
argentinos da Techint, somada com a participação dos japoneses,
consolidou o controle de grupos estrangeiros na empresa. Em ambos os
casos, a CSN tentou comprar os ativos, mas saiu derrotada.
Na área técnica do banco não há muito entusiasmo com a operação de
apoio à CSN. A relação de Steinbruch com o banco está estremecida desde
2006, quando a Vicunha Siderurgia (holding que controla a CSN)
processou o banco em uma operação de conversão das debêntures da
Vicunha, emitidas durante o descruzamento societário com a Vale. Esse
litígio, no entanto, não é empecilho para comprar a TKSA.
Procurados, o BNDES informou que não comenta o assunto, e a CSN
comunicou por meio da assessoria de imprensa que também não se
pronunciaria.
No momento, com grandes chances de vencer a disputa, Steinbruch mira
dois ativos de peso que podem posicionar a CSN como um grande grupo
siderúrgico da América Latina, ao lado de Gerdau, ArcelorMittal e
Techint. Hoje, é o quarto produtor de aço brasileiro, tem uma usina na
Alemanha e duas laminadoras no exterior (EUA e Portugal).
A CSA, usina de aço semi-acabado (placas) da ThyssenKrupp,
localizada em Santa Cruz, no Rio, tem capacidade de 5 milhões de
toneladas por ano. A laminadora de chapas automotivas de alto padrão do
Alabama, no sul dos EUA, está apta a fornecer mais de 4 milhões de
toneladas por ano, tendo como mercado-alvo várias montadoras de
automóveis. Os dois ativos foram colocados à venda em maio de 2012,
após pesados prejuízos sofridos devido ao elevado custo de instalação e
ao momento ruim da siderurgia no mundo. Para montar esses ativos, o
grupo alemão gastou US$ 12 bilhões.
O modelo da operação, conforme apurou o Valor, envolve a separação
dos atuais ativos de aço da CSN - as usinas de Volta Redonda (RJ) e da
Alemanha e as laminadoras nos EUA (em Indiana) e em Portugal. Essas
unidades passariam a compor uma nova empresa, a "CSN Siderurgia", que
depois seria incorporada pela CSA. Essa operação tem como objetivo se
apoderar dos elevados créditos fiscais com os prejuízos acumulados pela
siderúrgica.
Como resultado dessa fusão, que não envolveira a mina de ferro Casa
de Pedra, a CSN ficaria controladora com cerca de 60% do capital da
nova empresa. A BNDESPar teria em torno de 30% e a Vale (dona de 27% da
CSA), uma participação minoritária.
Segundo apurou o Valor, o desenho com o BNDES, a princípio, não
agrada a Vale. A CSN é vista como uma concorrente direta da empresa por
ser também mineradora. A Vale tem direito de vetar um concorrente na
operação de venda da CSA, mas pode mudar de ideia caso seja convencida
por escalões superiores do governo do benefício do apoio do banco para o
setor industrial do país.
O banco é credor de R$ 2,4 bilhões da CSA, em empréstimos realizados
em 2007 e 2010, ano em que iniciou a operação, depois de seguidos
atrasos nas obras de instalação da usina.
A CSN estuda, ao mesmo tempo, para amenizar o impacto do negócio em
seu caixa, o lançamento de emissão de debênture lastreada nas ações
ordinárias e preferenciais que detém da Usiminas. Esses papéis
correspondem a cerca de 16% do capital total da siderúrgica mineira.
A Ternium, apurou o Valor, está bastante incomodada com o apoio do
BNDES à CSN na operação de aquisição da CSA. O braço siderúrgico da
Techint é forte candidata a fazer uma oferta pelo controle do complexo
siderúrgico de Santa Cruz. No entanto, se o banco financiar a CSN, a
Ternium ameaça desistir por se sentir em desvantagem. É uma decisão
política contra a qual o grupo ítalo-argentino não pode brigar.
A oferta vinculante dos interessados nos dois ativos tem prazo para
ser apresentada até o dia 15 de fevereiro. Além da Ternium, os
concorrentes da CSN são a ArcelorMittal e a americana Nucor. Ambas
querem levar apenas na laminadora do Alabama, pela qual fizeram ofertas
iguais de US$ 1,5 bilhão.
Fonte: Valor Econômico
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