Assunto foi abordado durante seminário realizado na CNT nessa quinta-feira (8).
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Num país com dimensões continentais e com uma extensa costa marítima como o Brasil, a navegação de cabotagem traz diversos benefícios. Esse foi um dos assuntos abordados, nessa quinta-feira (8), durante o Seminário Desafios e Perspectivas da Navegação Marítima de Cabotagem no Brasil, na sede da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Segundo o presidente da Deicmar Ambiental, empresa de soluções ambientais, Gerson Foratto, a matriz de transporte brasileira é desequilibrada devido à predominância do modal rodoviário, responsável por aproximadamente 60% do movimento das mercadorias brasileiras. Para reduzir a emissão de gases poluentes para a atmosfera, o ideal, para ele, seria uma “participação quase tripartite de cada um dos modais”.
Entre os benefícios ambientais, Foratto menciona a contribuição para o cumprimento das metas da Polícia Nacional de Mudanças Climáticas, a melhoria da qualidade do ar e a eficiência energética, com a redução do consumo dos combustíveis fósseis. Além disso, há também ganhos relacionados a melhorias na saúde pública e na mobilidade urbana de cidades e à redução de riscos logísticos, principalmente em relação ao transporte de produtos químicos. “São fatores que não paramos pra refletir, mas que a cabotagem ajudaria bastante”, ressalta.
Apesar dos notáveis ganhos com investimentos na cabotagem, Foratto diz que nada é feito no Brasil. “Nós estamos repletos de diagnósticos, sugestões, mas nós não fazemos nada. Falta ousadia dos gestores públicos, seja na presidência da República ou na agência reguladora. Os instrumentos já existem. O que nós precisamos é agir”, conclui.
Ganhos financeiros
A cabotagem gera não só ganhos para o meio ambiente, mas também para a economia de um país. O turismo náutico, com os cruzeiros marítimos, traz divisas e reflete em impacto econômico positivo, como a contribuição para o comércio com a venda do artesanato local. “O cruzeiro marítimo serve também como degustação daquela cidade que é visitada”, explica o vice-presidente da Cruise Lines International Association (Clia) Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar) Brasil, Cláudio Carneiro.
No entanto, segundo ele, as temporadas de cruzeiros são curtas no país e deveria se investir na categoria para que ela ocorresse por mais tempo na costa brasileira. “É questão de intenção, vontade. Temos certeza de que o país tem condições de atender uma demanda de cruzeiros durante todo o ano”, alega.
Visão governamental
Segundo o capitão-de-mar-e-guerra da Marinha do Brasil, Mauro José Rocha de Araújo, um dos objetivos da Política Marítima Nacional é a inserção otimizada do modal de transporte aquaviário na estrutura do comércio interno e externo brasileiro. Além disso, estão previstos incentivos à produção de navios no país, aprimoramento da infraestrutura portuária, aquaviária e de reparos navais, formação, atualização, valorização e aproveitamento dos recursos humanos empregados nas atividades marítimas, estaleiros eficientes e capazes de acelerar a produção, entre outros. No que cabe à Marinha, ele menciona estímulos à participação da indústria privada nacional na construção naval militar, à implantação ou ao desenvolvimento de instituições de ensino no campo das atividades marítimas, ao preparo profissional, à regulação das profissões relacionadas ás atividades marítimas, à segurança do tráfego marítimo e da navegação.
Para o capitão, o crescimento e a consolidação da cabotagem no Brasil fortalecem o poder marítimo brasileiro. “É importantíssimo termos uma navegação marítima de cabotagem que seja condizente com a situação estratégica que o Brasil hoje ocupa. É importante também para a defesa nacional termos essa força de reserva pra que ela possa rapidamente ser transformada em situação de crise”, esclarece.
Uma das recomendações do gerente de estudos e desempenho portuário da Agência Nacional de Transporte de Transportes Aquaviários (Antaq), Fernando Antônio Correia Serra, é que deveria se começar do contrário, isto é, partir das condições ideais e delas, então, agir para que sejam efetivadas na realidade. “Não é uma lei que muda a cabotagem, são fragmentos nos setores que vão por aí afora que podem modificá-la. Nós temos que sair do plano da discussão”, enfatiza.
Segundo ele, a cabotagem no país ainda é uma aventura, com incertezas não só da própria natureza do mar, como questões logísticas de atracamento e desatracamento de embarcações em portos brasileiros. Além disso, a burocracia é outro entrave para a maior utilização do modal. “A cabotagem não vai sobreviver se não tiver agilidade na entrada e saída do porto”, alerta. Serra complementa que há muito espaço para o setor crescer e que basta que as políticas sejam bem conduzidas.
Ana Rita Gondim
Fonte: Agência CNT de Notícias
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