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sábado, 4 de maio de 2013

Cura gay dá o que falar nas ruas e no Congresso


Publicação: Sábado, 04/05/2013 às 09:55:00   Atualização: 04/05/2013 às 09:37:33
Carla Rodrigues
Especial para o Jornal de Brasília

Ser homossexual é uma questão de opção? Seria possível tratar a orientação sexual de gays, lésbicas e transgêneros? O polêmico presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano (PSC-SP), acredita que sim. Tanto que colocou na pauta de votação um projeto de cura gay. A proposta pretende derrubar determinação de 1999, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proíbe profissionais da área de atribuir caráter patológico à sexualidade das pessoas. No Distrito Federal, contudo, movimentos LGBTS avaliam o documento como inconstitucional. Na outra ponta, pessoas consideradas ex-gays acreditam no tratamento para reversão da homossexualidade.

Para Alexandra Martins, 29, fotógrafa e ativista das causas LGBT, a cura para homossexualidade não existe, porque não é uma doença. “Particularmente, acho que isso não existe. Da mesma forma que não existe ex-gay. Mas sim pessoas que se assumem de outras maneiras a depender das suas necessidades, limitações pessoas e influência da igreja”, avaliou.

Para defensores dos movimentos gays, o termo ex-homossexual pode ser aplicado para aqueles que entendem sua preferência sexual, mas desejam uma orientação diferente. É o que a psicologia chama de egodistônica: são aspectos do pensamento, dos impulsos, atitudes, comportamentos e sentimentos que contrariam e perturbam a própria pessoa. O dicionário de saúde mental da OMS ressalta ainda que homossexualidade, bissexualidade e transexualidade não são transtornos nem doenças.

“Esse projeto pretende suspender a resolução do CFP, estigmatizando e trazendo novamente a condição de doença mental para a homossexualidade. Muito me preocupa esse retrocesso em termos de garantia de direitos”, avalia a psicóloga Sheylane Brandão.
Ela acredita que a proposta não deve passar por outras instâncias “legítimas”. “Caio na tentação de pensar que esse senhor, Feliciano, precisa muito de holofotes e quando eles começam a se apagar, ele lança uma pauta com essa”, disse a profissional.

Wilker Dantas, vocalista da banda Xote Santo, acredita que deixar de ser gay é uma opção. “Fui gay até os 30 anos de idade. Mas, um dia, percebi que não era isso que me fazia feliz, porque sentia um vazio muito grande dentro de mim”, revelou. “Até então, os meus sentimentos, minhas paixões, eram com homens”. Há mais de dez anos, ele decidiu buscar a igreja evangélica e lá, diz ter encontrado respostas.

“Para me sentir feliz, busquei outros homens, outras relações. Mas precisava de Deus na minha vida. Dentro da igreja, uma pessoa, essa pessoa que hoje é minha esposa, me abraçou num dia em que eu chorei muito durante o culto”, diz.
Hoje, Wilker é casado, tem uma filha de quatro anos e sua mulher espera outro filho. “Hoje, sou uma pessoa comum. Não preciso me responder. Nunca voltei atrás da minha decisão. Sou feliz, amado e amo minha família”, afirmou. Sobre o projeto de lei, ele é incisivo: “Se não for obrigatório o tratamento, acho que vale tentar, se a pessoa quer deixar de ser homossexual”.

A Associação Brasileira de Ex-Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros (AbexLGBTT) acredita que o projeto pode ir para frente. Mais do que isso, a entidade defende a cura gay. Joyde Miranda, fundador do grupo, conta como deixou de ser travesti. “Conheci a pastora Gisela Guth. Ela me amou de uma forma incondicional e dedicou tempo de sua vida para ajudar-me. Deus a usou para minha completa libertação”, conta.

Natural de Taguatinga, Claudemiro Soares, 38 anos, era gay. Após sua conversão, o ex-homossexual, já com mulher e filhos, lançou um livro em 2008 chamado Homossexualidade Masculina: Escolha ou destino?. Na obra, ele fala sobre diversas terapias que mudam a orientação sexual dos gays. Em depoimento, o professor afirma que sofre preconceito hoje por sua opção. “O Estado e a sociedade em geral recusam-se a reconhecer e respeitar a escolha dessas pessoas”.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Marco Feliciano (PSC-SP), usou o Twitter para justificar a inclusão na pauta do colegiado de um projeto que permite aos psicólogos promoverem tratamento com o fim de curar a homossexualidade.

O deputado defendeu a proposta e disse que a imprensa distorce o teor do projeto. "A mídia divulga um PL como 'cura gay' quando na verdade ele não trata sobre isso, até porque homossexualidade não é doença", escreveu.

"Esse projeto protege o profissional de psicologia quando procurado por alguém com angústia sobre sua sexualidade", completou.
O texto quer sustar parte de resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe o tratamento psicológico com o objetivo de curar a homossexualidade.

Na justificativa, o autor da proposta, João Campos (PSDB-GO), afirma que o conselho "extrapolou seu poder regulamentar" ao "restringir o trabalho dos profissionais".

Segundo deputados petistas, a inclusão do projeto na pauta é uma retaliação ao anúncio de que deputados ligados aos direitos humanos criaram uma espécie de comissão paralela, fundando uma subcomissão na Comissão de Cultura.

Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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