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Forte de Coimbra - V 18
Classe
Imperial Marinheiro
Reprodução do texto "Muito
Obrigado Corveta Forte de Coimbra", publicado na Revista Marítima
Brasileira n.º 4/6, abr./jun. 1997, de autoria do CMG (RRm) Ronaldo
Pereira Vilaça.
"Muito Obrigado Corveta
Forte de Coimbra"
" A 13 de novembro
de 1996 recebemos a trágica noticia: a Corveta Forte de Coimbra encalhara
na véspera, próximo à entrada da barra do porto de Natal e se debatia
em vão sobre os arrecifes da Baixinha. Nos dias que se seguiram, vários
ex-tripulantes, alguns parentes dos atuais tripulantes e muitos curiosos,
entristecidos mas esperançosos, acompanhavam o mais perto que puderam
as tentativa de desencalhe feitas pela nossa Marinha, com extremo profissionalismo,
mas infelizmente sem êxito. era incrível, mas a Corveta se recusava
a desencalhar. Enquanto o tempo passava, ela permanecia imóvel, "chorando
lágrimas de ferrugem pelos escovens envelhecidos", como diria um
certo poeta marinheiro cujo nome não me recordo.
Nós, que fazemos a Marinha
do Brasil, amamos tanto nossos navios que consideramos, em vários aspectos,
semelhantes a um ser humano, a começar pelo batimento da quilha, ou
seja, pela fecundação do ovulo. No lançamento ao mar, o navio desliza
pela carreira do estaleiro como em um parto normal. Ele também é batizado,
passando a ser chamado por um determinado nome. Nos seus primeiros dias,
é submetido a uma avaliação operacional, para verificar se tudo nele
funciona, à semelhança do que faz o pediatra com o recém-nascido. Como
o homem, o navio se comunica (sirene, apito, transceptores, etc. ...),
tem sentidos, até bastante aguçados, graças aos seus sensores (radar,
sonar, ecobatimetro, etc ...), tem alma (forjada pela fibra, competência
e abnegação de seus tripulantes, vez por outra adoece (avarias), é tratado
em hospitais específicos (bases navais e estaleiros), envelhece e morre.
No entanto, sua morte é mais triste do que a do homem, pois muito raramente
um navio morre nos braços de seus entes queridos: o mar, o rio e sua
tripulação. Normalmente, docado em um estaleiro, sem tripulantes a bordo,
tem seu corpo esquartejado e vendido como ferro velho. por isso. parece
que alguns navios, que tiveram vidas gloriosas, recusam-se a morrer
deste modo e decidem fazer do oceano a última morada.
Ora, a Corveta Forte de
Coimbra tinha 41 anos de idade. Embora robusta, poderíamos considerar
que ela era uma saudável anciã de 82 anos, se compararmos a vida útil
de um navio com a do homem. Assim, naturalmente já estava sentindo o
peso da idade. Além disso, há pouco mais de um anos esteve muito mal
e tudo indicava que morreria, pois tinha uma grave lesão em um órgão
vital: um eixo de manivelas, não mais disponível no mercado. Felizmente,
foi salvo graças ao transplante deste órgão de sua irmã gémea, a Corveta
Iguatemi, que agonizava em Belém.
Depois do transplante, fez
várias viagens, durante as quais demonstrou que parecia estar inteiramente
recuperada. Entretanto, creio que imaginou estar tendo a "visita
da Saúde", como dizemos no Nordeste, em relação aos enfermos terminais
que têm uma súbita melhora antes de morrer. assim, acreditou que seus
dias estavam contados e resolveu ter uma morte digna. Contando com a
cumplicidade de Netuno, escolheu as proximidades da boca da barra de
Natal como local ideal para ser seu túmulo.
Apesar de sua tripulação
ter feito um esforço sobre-humano para salva-la, ali morreu abraçada
pelo mar que tanto amou e acariciou, nas vazantes, pelas águas do seu
querido Potengi, onde costumava descansar no cais da Base Naval de Natal,
após brilhar nas fainas realizadas. Caprichosamente, ficou cravada na
pedra da Baixinha, em uma posição visível à grande distância, como um
monumento à bravura daqueles que, juntamente com ela, salvaram dezenas
de embarcações e vidas humanas no mar, durante esses seus 41 anos de
excelentes serviços prestados à Marinha do Brasil.
Minha Corveta, os que a
avistarem compreenderão o seu gesto e a grandeza dos seus feitos.
Muito obrigado por tudo,
querida Forte de Coimbra,. Fique certa de que aqueles que conviveram
com você ou souberam de suas façanhas jamais a esquecerão."
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